Cana de Açucar

Porque a Expansão do Setor Sucroenergético na Matriz Brasileira

Cana de açúcar atingiu o posto de segunda maior fonte de energia primária na matriz energética brasileira


Publicado em: 06/06/2008 às 15:58hs

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Os dados divulgados pela EPE, referentes ao ano de 2007, indicam que a cana de açúcar atingiu o posto de segunda maior fonte de energia primária na matriz energética brasileira, atingindo uma participação de 16% enquanto a energia hídrica apresentou uma participação de 14,7%. Cabe frisar, que a energia da cana já era pra ter atingido esta posição anteriormente caso o Pró-Álcool não tivesse sido abandonado ao longo da década de 90.

O grande propulsor do aumento da participação da energia da cana na matriz brasileira foi o crescimento da demanda de etanol que atingiu o valor de 20,1 bilhões de litros, impulsionada pelo crescimento no consumo doméstico de etanol hidratado de 46,1% e pelo aumento de percentual de etanol anidro misturado na gasolina de 23% para 25%. Este aumento do consumo de etanol somado ao crescimento da geração de bioeletricidade resultou na produção de 38,4 milhões de tep oriundos da energia da cana em 2007.

Contudo, embora os números apresentados até aqui sejam de grande magnitude, a utilização do potencial energético da cana ainda encontra-se muito aquém do seu potencial. Uma tonelada de cana de açúcar possui energia primária equivalente a 1,2 barris de petróleo. Diante tamanho potencial energético, uma primeira mudança de nomenclatura que se faz necessária é a adoção da terminologia cana energética em detrimento ao termo cana de açúcar porque o açúcar é uma mera commodity agrícola enquanto que a energia é um produto estratégico da maior relevância.

A sacarose, a partir da qual se produz o etanol, contém apenas 1/3 da energia da cana. Os outros 2/3 da energia da cana estão contidos no bagaço e na palha, dos quais apenas uma pequena parte é utilizada para geração de energia a partir da queima do bagaço nas usinas sucroalcooleiras.

Atualmente a potência instalada para a produção de bioeletricidade é de aproximadamente 4.000 MW, sendo 3.000 MW para auto-suprimento. Neste sentido, existe um imenso potencial energético a ser explorado. A adoção de tecnologias mais eficientes associada à expansão do cultivo da cana permitirá a inserção de significativos montantes de bioeletricidade no sistema elétrico brasileiro. Como ilustração, na safra 2020/21, onde se estima uma colheita de 1.038 milhões de toneladas de cana, projeta-se a exportação de 14.379 MWmed de energia assegurada.

Por outro lado, a possibilidade do etanol de celulose ser viável economicamente em um horizonte curto de tempo abre outra janela de oportunidade para o aproveitamento do poder energético do bagaço e da palha da cana. É importante ressaltar que o gradativo fim da prática de queimadas garante uma oferta de biomassa que possibilita a geração de montantes relevantes de bioeletricidade concomitantemente a produção de etanol de celulose.

Porém, a possibilidade de produção de etanol de celulose se constitui apenas em uma expansão de uma atividade produtora que já integra o core-business do agente usineiro. A atividade que de fato representa uma ampliação do ramo de atuação dos agentes sucroalcooleiros é a comercialização de eletricidade. Estimativas de agente do setor indicam que a participação da comercialização de bioeletricidade na receita da usina deve subir do atual patamar de 1% para 16% na safra 2015/16. Neste sentido, é necessário se fazer uma segunda alteração de nomenclatura porque dada à relevância crescente da geração de eletricidade, o termo sucroalcooleiro deve ser substituído pelo termo sucroenergético, o qual engloba tanto a produção de álcool como a produção de eletricidade.

As projeções indicam um aumento da participação relativa da venda de energia na receita das usinas em detrimento da receita oriunda da comercialização de açúcar. A comercialização de energia corresponderá a 2/3 da receita das usinas já na safra 2015/16. Desta forma, torna-se adequada à utilização do termo cana energética em substituição ao termo cana de açúcar. Por fim, é necesário se ressaltar a necessidade de se adotar a expressão sucroenergético em detrimento ao termo sucroalcooleiro porque já é passado o tempo em que o etanol era o único bem energético produzido nas usinas canavieiras brasileiras.     

Guilherme de Azevedo Dantas

 

Mestre em Economia e Política da Energia e do Ambiente pela Universidade Técnica de Lisboa e Pesquisador do INFOSUCRO/UFRJ.

 

Fonte: Guilherme de Azevedo Dantas

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