Publicado em: 08/08/2024 às 15:20hs
O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, com cerca de 607 milhões de toneladas colhidas na safra 2023/2024, segundo levantamento de 2024 da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). No entanto, apesar da grande produção, o país possui uma baixa produtividade agrícola, com cerca de 73,61 ton/ha (CONAB 2024), abaixo inclusive de países com menor tradição canavieira como, por exemplo, a Colômbia, cuja produtividade média é de 93 ton/ha e produz apenas 23 milhões de toneladas.
Por localização, o Brasil é um país tropical e é caracterizado por chuvas e altas temperaturas. No entanto, normalmente nunca foi assim. Nos estados produtores de cana-de-açúcar, a estação climática é dividida em estações chuvosas e em períodos de estiagem que prevalecem por pelo menos cinco meses, como demonstrado na ilustração abaixo. Esse período de estiagem é necessário para a realização da colheita. No entanto, diminui nossa produtividade, principalmente no meio e final de safra, pois a cana-de-açúcar é produzida em no mínimo 12 meses e não apenas 5-6 meses. (Figura 01).
Figura 01. Precipitação mensal no Brasil ao decorrer dos meses
Citado por vários especialistas do setor, de todos os fatores de produção que contribuem com a produtividade da cana-de-açúcar, 50% é o clima, e como menos de 20% da área de cana-de-açúcar é irrigada com água, grande parte do sucesso da produção nacional fica à mercê das oscilações climáticas. O fator água fica tão evidente no ambiente produtivo da cultura que, na ilustração abaixo, pode-se observar a diferença da produtividade de cana-de-açúcar entre o seu potencial produtivo, sem déficit hídrico, e a média histórica da região, onde há a presença do déficit hídrico.
Fonte: Monteiro & Sentelhas, 2014
Figura 02. Diferença de produtividade “Yield gap” entre o potencial produtivo da cana-de-açúcar com a média produzida
Já superamos a metade do período de moagem para a região Centro-Sul e, em algumas regiões canavieiras, já há mais de 90 dias sem uma chuva de grandes proporções, e isso já é percebido visualmente em vários canaviais. Com certeza, diminuindo a produtividade média, como comumente ocorre (Figura 03), e provavelmente gerando muita “dor de cabeça” ao setor agrícola para abastecer as usinas e uma insegurança à indústria pela possibilidade de ficar com a moagem ociosa.
Fonte: Relatório Única 2024
Figura 03. Produtividade média de cana de açúcar no Brasil ao decorrer dos meses
Entretanto, usinas e produtores de cana-de-açúcar que investiram em irrigação, principalmente a irrigação por gotejamento, estão sentindo menos os efeitos da estiagem e demonstrando que é possível verticalizar a sua produtividade, mitigando os riscos dos efeitos climáticos.
Nas fotos abaixo, observamos, em várias regiões do país, empresas e empresários agrícolas que investiram na irrigação por gotejamento e já colhem resultados. Em alguns casos, com mais de 100% de aumento de produtividade.
Foto 01. No triângulo mineiro, canavial de sequeiro a esquerda e canavial irrigador por gotejamento a direita, foto tirada em junho de 2024
Foto 02. No Oeste paulista, canavial de sequeiro a esquerda e canavial irrigado por gotejamento a direita, foto tirada em junho de 2024
Foto 03. No estado do Mato Grosso, cana de sequeiro ao lado esquerdo e cana irrigado por gotejamento ao lado direito, foto tirada em abril de 2024
Foto 04. Na região de Ribeirão Preto – SP, cana irrigada por gotejamento (3º corte) ao lado esquerdo e cana de sequeiro por gotejamento ao lado direito, foto tirada em janeiro de 2024
Nas safras atuais, onde temos que ser cada vez mais competitivos em relação à produtividade e com isso vários outros atributos que estão ligados a ela, não existem mais espaço para erros. Se a tecnologia da irrigação existe, por que não adotá-la? Até quando seremos reféns da insegurança que o clima nos proporciona?
Eng. Agro. Daniel B. Pedroso, Especialista Agronômico Sênior da Netafim Brasil
Fonte: Netafim
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