Publicado em: 29/07/2013 às 18:50hs
No Paraná o frio intenso contribuiu para a ocorrência de geada que atingiu lavouras de café na porção mais ao norte do estado deixando como consequência plantas com aparência de queimadas além do comprometimento da próxima safra naquela região. As notícias sobre esse fenômeno citam a ocorrência de diferentes tipos de geadas ocorrendo quase que simultaneamente na região ao longo das madrugadas frias.
Com relação a esse fenômeno de frio extremo, deve-se inicialmente esclarecer que a geada trata-se de um evento de tempo meteorológico e não de evento climático. A geada, em seu conceito mais comum, ocorre quando a temperatura próxima ao nível das plantas alcança valores abaixo do ponto de congelamento da água. Nessa condição é facilitada a formação de cristais de gelo (pelo processo físico da ressublimação da água) sobre qualquer superfície desde que esta se encontre à temperatura abaixo do ponto de congelamento da água; é a chamada “geada branca”.
Uma das exigências para que ocorra esse tipo de geada é a presença de umidade no ar, sem o qual não pode haver a formação do gelo. A condição atmosférica normalmente ocorre a partir da advecção (movimento horizontal do ar) do ar frio, ou seja, da entrada de uma massa de ar fria sobre uma área com ventos geralmente superiores a 8 km/h, sendo comum a presença de nuvens. Por isso esse tipo de geada é também algumas vezes chamada de “geada de advecção”.
Do ponto de vista agronômico existe, porém, outras condições atmosféricas que ocorrem no inverno e proporcionam o congelamento dos fluídos presentes no interior das folhas nas plantas, fazendo com que parte das estruturas internas das folhas seja destruída pela expansão dos fluídos quando congelados. Quando ocorrem esses tipos de danos às plantas diz-se que ocorreu a “geada negra”. Uma das principais características da atmosfera necessária à ocorrência deste tipo de evento é o fato do céu encontrar-se totalmente claro durante a noite, ou seja, sem a presença de nuvens, favorecendo o resfriamento da superfície do solo pela perda de calor para o espaço por radiação.
Outra característica da atmosfera para a existência desse fenômeno é a presença de uma massa de ar com baixíssima umidade (ar seco) e vento calmo, com velocidades abaixo de 8 Km/h. Devido a essas características, por vezes esse fenômeno também é chamado de “geada de radiação”, sendo considerados essencialmente como um fenômeno de escala local. As geadas, de modo geral, são consideradas como um fenômeno de ocorrência de curta duração e de difícil previsão.
Para o cafeeiro, as geadas brancas podem provocar danos principalmente nas folhas mais novas que, além de se encontrarem na parte mais externa da planta, apresentam estruturas celulares menos resistente ao frio. As geadas negras, por sua vez, provocam desde a queima das folhas do cafeeiro até mesmo à morte dos ramos levando a necessidade da poda precoce da planta, o que representa redução da produtividade para a próxima safra, causando grande prejuízo ao cafeicultor. Para a safra atual a ocorrência da geada só provoca perdas nas lavouras em que os frutos ainda estão, em sua maioria, no estádio de maturação verde.
Williams Ferreira - Pesquisador da Embrapa/EPAMIG na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais. williams.ferreira@embrapa.br (ou) williams.ferreira@epamig.br
Marcelo de F. Ribeiro - Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br.
Fonte: EPAMIG
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