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Mercado Global de Café Enfrenta Crise: Aumento de Preços Preocupa Indústria e Comerciantes

Traders e torrefadores reduzem compras devido a preços elevados e incertezas sobre o futuro


Publicado em: 07/03/2025 às 14:40hs

Mercado Global de Café Enfrenta Crise: Aumento de Preços Preocupa Indústria e Comerciantes

O comércio global de café atravessa um momento crítico, fortemente impactado por aumentos acentuados nos preços, que desafiam tanto os fornecedores quanto os consumidores. Em uma recente convenção da Associação Nacional de Café dos Estados Unidos, realizada em Houston, profissionais do setor relataram que, devido à escalada de 70% nos contratos futuros de café arábica desde novembro, muitos reduziram suas compras a níveis mínimos.

Renan Chueiri, diretor geral da ELCAFE CA, empresa equatoriana de café instantâneo, comentou que pela primeira vez em sua história, a empresa não vendeu toda a sua produção anual esperada até março. "Normalmente estaríamos esgotados até agora, mas até o momento, vendemos menos de 30% da produção", revelou, destacando que o aumento substancial nos preços prejudica o fluxo de caixa dos clientes, que enfrentam dificuldades para financiar suas compras.

A disparada nos preços do café é consequência da queda na produção nas principais regiões produtoras, especialmente no Brasil, o maior produtor mundial. Isso tem gerado uma escassez de grãos, o que intensifica a pressão sobre o mercado. "Ninguém quer se expor. Não se está comprando para entrega futura, é tudo na base da compra imediata", explicou um corretor de café, que preferiu não ser identificado devido à natureza sensível do assunto. Essa prática, conhecida como "mão na boca", consiste em comprar apenas o necessário para o momento, evitando a formação de estoques.

As transações no Brasil, segundo o corretor, têm ocorrido de forma extremamente cautelosa. "Você fecha um negócio e tem sete dias para pegar o café na fazenda ou no armazém, conferir a qualidade e, se estiver tudo certo, fazer o pagamento e levar o produto", contou.

Embora uma pesquisa recente da Reuters sugira que os preços do café arábica possam cair até 30% até o fim do ano, com base em uma safra brasileira mais abundante, os altos preços continuam a limitar a demanda e a deixar a indústria em uma situação delicada.

Nos Estados Unidos, maior consumidor mundial de café, o CEO de uma grande torrefadora afirmou que alguns de seus clientes estão incertos sobre sua capacidade de seguir no mercado devido aos preços elevados. "Eles não sabem se conseguirão vender seus produtos pelos novos preços", disse, também pedindo anonimato. Supermercados e mercearias têm resistido às demandas de preços mais altos, o que tem dificultado as negociações e causado falta de café nas prateleiras.

Os desafios não param por aí. Armazéns próximos aos portos dos EUA, que recebem café da América Central e do Sul, operam com metade de seus volumes normais. "Algumas empresas de armazenamento estão devolvendo os silos aos proprietários e cancelando contratos de arrendamento", afirmou um executivo de uma das maiores empresas do setor.

O proprietário da corretora MVLcoffee, Michael Von Luehrte, observou que o mercado de café, especialmente no setor comercial, poderá passar por um processo de consolidação. Empresas com mais capital podem expandir suas operações, enquanto outras sofrerão com a escassez de financiamento.

Por outro lado, a empresa Louis Dreyfus destacou que a área plantada de café tem se expandido em resposta aos preços mais altos, com novos cultivos sendo estabelecidos em países como Índia, Uganda, Etiópia e Brasil. A expectativa é de que, se o Brasil conseguir uma safra robusta, essa expansão, combinada com uma boa produção, possa resultar em uma queda acentuada nos preços do café.

Fonte: Portal do Agronegócio

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