Café

Drawback gera discussão em rede social

A matéria - CDPC discute drawback e poderá gerar perplexidade no mercado mundial de café - publicada na semana passada pelo Coffee Break, gerou diversos comentários de especialistas na rede social Peabirus, comunidade Manejo da Lavoura


Publicado em: 23/02/2012 às 19:40hs

Drawback gera discussão em rede social

De acordo com o especialista Francisco Ourique “o drawback para trazer café robusta para a indústria do solúvel e café arábica para a indústria do torrado e moído, em uma proporção extremamente elevada no que toca ao arábica, e numa proporção de 20% no que toca o café robusta para o solúvel. Em nada isso resolve o problema do solúvel, que não é só um problema de competitividade, mas é um problema de falta de acesso ao mercado, à prateleira do consumidor dos países importadores’”, explicou Ourique, convidado pelo site a falar sobre este tema em pauta na reunião do CDPC da semana passada.

O comentário do produtor de café conilon, em Muqui (Espírito Santo), Carlos Alberto da Costa Carvalho, diz: “Fui convidado para uma reunião na FAES/ES, no dia 08/02, na qual o principal palestrante foi o Sr. Edilson Alcântara, representante do departamento de Café do MAPA e o principal assunto a ser tratado foi o drawback de café. Logo de início fiz uma pergunta ao palestrante de como poderíamos importar café de países que não respeitam o meio ambiente, leis trabalhistas e ainda produzem produtos de péssima qualidade, a resposta do Sr. Edilson foi que nada disso interessava, segundo o seu conceito o que interessa é não deixar o parque industrial cafeeiro falir. A partir deste momento minha boca se fechou, pois fiquei em dúvida se o Sr. Edilson é represente do MAPA ou do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Os produtores de café precisam de representantes que lutem por eles e não contra eles”.

José Gabriel Weinberger comentou sobre o risco que o drawback traz. “Assunto antigo e complexo. Eu apoio a importação de cafés arábica finos da África, Colômbia, para as torrefações  e  cafés robusta/arábica com maiores defeitos para indústria solúvel, sem restrição. Quem tem coragem para autorizar tal medida? Livre comércio é interesse nacional? Adicionar valor e fazer do café produzido aqui dentro do país um produto competitivo  agradará ao  consumidor   interno e  externo. Eventuais doenças que poderão ser introduzidas voluntaria ou intencionalmente é o grande risco”.

A favor

Ruy Barreto Flho, do Café Globo, disse que “desculpe, mas não adianta ter força para entrar no varejo se não há preço para vender no varejo. O drawback para solúvel possibilitará ao Brasil trabalhar um melhor preço para atingir as prateleiras via embaladores e marcas próprias no mercado internacional. Por não termos drawback perdemos este clientes para a Índia, Indonésia, Colômbia e Vietnã, produtores de café que permitem drawback. A Índia já é a maior exportadora de solúvel do mundo, tudo conquistado com o drawback e nós caindo a cada ano.

O Brasil é o maior produtor de carne, frango e porco do mundo e importa para consumo interno estes produtos, tem algum problema? Nenhum. A indústria já está cansada de fazer estudos e estratégias para drawback; já foram feitos mais de mil estudos e estratégia, falta poder de decisão, poder político, este é um direito do setor, estamos algemados. O café a ser importado é o da mesma qualidade que outros concorrentes compram na Europa, café robusta de boa qualidade.

Não ha mais o que se discutir no drawback de solúvel, até o SIC foi a favor em seu primeiro estudo feito sobre a matéria”.

Sugestões

Fernando Souza Barros relata que “há dois anos e meio, em uma reunião com o ex-Ministro da Indústria e Comércio, Miguel Jorge, além do Pis e Cofins, fomos tratar de alguns assuntos ligados a transparência na comercialização de nosso café e um deles foi com relação a Importação do produto e aí fizemos algumas observações e sugestões:

  1. Teríamos uma região restrita, fácil de fiscalizar, onde faríamos indústrias, seja de torrefação ou solúvel, ligadas somente à exportação e até financiadas pelo BNDES.
     
  2. O café importado seria industrializado com o nosso e o exportado não sendo permitido o seu consumo dentro do País.
     
  3. Quanto à qualidade importada, seria aquela que viabilizasse a reexportação.
  4. Problemas sanitários poderiam ser vistos como qualquer país faz quando compra nosso produto.
     
  5. O local para se executar esta operação deve ser de tal forma que estejamos mais perto dos consumidores e com mais necessidade de empregos (logística e modo de operação).
     
  6. A parte de colocação deste produto teria o amparo de uma campanha profissional de marketing de nosso café e dos produtos oferecidos. Aos produtores brasileiros eles teriam mais facilidade de colocação de seus cafés até por estarem perto das indústrias e até poderiam ter indústria própria.
  7. Agora a grande vantagem seria o Brasil mostrar como maior produtor e o segundo consumidor que não vai ficar de braços cruzados como fornecedor só de matéria prima e assim saber de fato o que ocorre com o resto dos produtores mundiais e o próprio mercado consumidor. O faturamento (divisas) cresceria bastante podendo até dobrar e poderíamos dar muitos e muitos empregos, sem prejudicar o nosso produtor.
     
  8. Quanto ao solúvel, as indústrias poderiam montar a sua filial e arregaçar as mangas! Assim não precisaríamos nem limitar a importação desde que ela fosse desta forma”, finaliza Fernando.

Mercados e problemas

De acordo com a matéria publicada no Coffee Break, o especialista Francisco Ourique diz que “o Brasil sabe que em todos os setores do agronegócio, mesmo na área industrial, a dificuldade de se colocar produtos brasileiros na prateleira dos supermercados dos países importadores, particularmente da Europa. Esse conjunto de países representa quase 30% do consumo mundial de café. Não é uma questão de dogma o drawback para nós do Brasil. Sabemos que existe café mais barato no mundo, de pior qualidade, ou café que é barato porque o valor da mão de obra, o valor da terra e o valor da energia são totalmente inferiores ao custo brasileiro”.

Perguntado sobre os impactos do drawback no setor cafeeiro nacional, Francisco Ourique foi taxativo ao destacar que “as autoridades públicas têm que ter a consciência que o drawback de café vai sim regular e influenciar a vitalidade da cafeicultura brasileira, sem resolver o problema de competitividade do café solúvel”. Ainda segundo Ourique, “no que toca o café torrado e moído não é um problema de competitividade, nós somos competitivos. Nós não precisamos desse tipo de mecanismo para ter acesso ao mercado internacional, quer do ponto de vista de custo, quer do ponto de vista de qualidade do blend (do produto). A nossa dificuldade de acesso ao mercado é o poder e o custo de acesso às redes de supermercado”.

Para o especialista em café, o tema a ser discutido hoje na reunião do CDPC não avaliou tecnicamente todos os aspetos que a medida envolve, todos o embates que ela pode ter. “O Brasil, depois de mais de 150 anos de atividade cafeeira, vai de uma hora para outra, pela primeira vez na história da República, permitir a importação de café sem um plano estratégico, sem metas, sem objetivos, sem avaliar quer os impactos internos, quer os compromissos internacionais que esse tipo de mecanismo poderia permitir”, alerta.

Outro ponto abordado diz respeito à matéria prima. “A Suíça é o país que mais opera com drawback porque não tem matéria prima. A Alemanha entrou na União Europeia para ter acesso à matéria prima dos países vizinhos, porque a Alemanha não tem matéria prima. O Brasil tem matéria prima e vai permitir a importação de matéria prima, achando que isso vai resolver o problema das exportações de produto com maior valor agregado”.

Para Ourique, “esse é um tema extremamente complexo e de repercussões extremamente sérias. Uma avaliação pontual de ameaças e sucessos tem que ser feita antes de qualquer medida. A medida não pode ser tomada, simplesmente, para tentar fazer uma redução pífia de custo de alguns segmentos da indústria; segmento este, no que toca ao solúvel, que mercê um programa e um projeto de governo a altura de permitir que essa indústria, de fato, penetre nos mercados importadores”.

“O drawback de 20% não vai ter esse impacto e vai gerar no mercado mundial uma extrema perplexidade, de que o Brasil, maior produtor de café, vai começar a importar matéria prima de qualidade inferior como potencial alavanca para tentar o acesso a mercado, quando o problema não é esse e não se reduz a isso. É muito mais complexo”, sinaliza.

Fonte: Coffee Break

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