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Café: 15 dias que fazem muita diferença

Novo método agiliza teste de germinação no café e pode ajudar no estabelecimento do próprio cafezal


Publicado em: 13/08/2012 às 08:15hs

Café: 15 dias que fazem muita diferença

Sementes com maior vigor, mudas obtidas em menos tempo e plantio antecipado. Tudo desembocando em lavouras mais bem formadas e de melhor qualidade. Esse é o resultado que uma mudança, aparentemente, sutil está trazendo para a cafeicultura nacional.

Uma nova metodologia para o teste de germinação da semente do café, desenvolvida pelo Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café e que conta com a participação da Universidade Federal de Lavras (UFLA), reduz pela metade o tempo de 30 dias necessários e obrigatórios pelo Sistema Nacional de Produção de Sementes e Mudas (SNSM), do Ministério da Agricultura, para a avaliação da germinação. Os resultados apresentados podem servir de base para um novo processo de validação.

Todos os produtores de semente de qualquer espécie de grão comercial têm de testar a qualidade fisiológica da semente. Colocando para germinar a semente em condições ideais para a espécie, que deve gerar dentro de determinado período e em condições controladas, uma plântula onde seja possível já visualizar a correta formação da raiz e do hipocótilo, que dará origem ao caule da planta.

“Em sementes muito vigorosas, é possível visualizar essas partes num período de tempo muito menor que 30 dias. Porém, como o teste tem que ser ideal para qualquer qualidade de semente, inclusive as com menos vigor, que demoram mais para ter as partes visualizadas, o prazo de 30 dias torna-se necessário”, observa a pesquisadora da Embrapa Café, Sttela Dellyzete da Rosa.

O novo processo faz essa identificação em apenas 15 dias e em sementes de qualquer qualidade. Observa-se a planta em estádios mais precoces e com antecedência identifica-se os primórdios da raiz e do hipocótilo, garantindo a normalidade da futura planta. Os experimentos fazem parte da tese de mestrado do agrônomo Gabriel Castanheira, da UFLA, que foi orientado pela própria pesquisadora e baseiam-se em um trabalho do qual ela participou na Ohio State University – OSU, nos EUA, com o objetivo de caracterizar o crescimento da plântula de café.

Vigor na germinação

Segundo a pesquisadora, como atualmente o tempo do teste é de 30 dias, é permitido, de modo informal, que as sementes sejam vendidas, desde que o representante técnico do sementeiro ateste e garanta a germinação de pelo menos 70% das sementes. No entanto, 70% de germinação representa um percentual relativamente baixo. No milho, por exemplo, o padrão de germinação é de 90%.

“Vigor é um aspecto muito importante. Os testes de germinação são feitos dentro de condições controladas, que as sementes não terão quando forem para um viveiro. Na região de Lavras, MG, por exemplo, a temperatura de emergência no viveiro chega a 19°C, sendo que a temperatura ideal de germinação é de 30°C. Então para ela ter no viveiro a mesma performance dos testes em laboratório, ela precisa ter muito vigor”, ressalta.

Nesse sentido, diminuir o tempo do teste, torna-se fundamental para obrigar o sementeiro a atestar uma qualidade superior. Além disso, o fato de o sementeiro poder atestar a qualidade da semente e emitir o boletim oficial de poder de germinação em um espaço de tempo menor, dá a ele a oportunidade de comercializar as sementes mais cedo, impactando diretamente sobre a viabilidade da muda.

Assim, os efeitos positivos estendem-se por toda a cadeia: avaliação mais rápida viabiliza sementes com vigor mais alto, que, por sua vez, vão elevar o padrão da muda, e vão melhorar o pegamento no campo e, possivelmente, acelerar o processo produtivo do cafezal.

Veranicos

A pesquisadora ainda explica que, como a colheita dos grãos e das sementes acontecem nos meses de maio e junho e a muda demora 6 meses para ser formada, esta deverá ser plantada nos meses de janeiro e fevereiro, estando, portanto, mais sujeitas as veranicos dos meses seguintes.

“Trabalhando com sementes mais vigorosas, é possível obter, então, mudas também em menos tempo, permitindo que estas sejam plantadas em meses mais chuvosos. Se o produtor não tem irrigação, fica na dependência da chuva. Com uma muda mais vigorosa num tempo mais curto, ele tem também a lavoura formada mais cedo e com menos perdas”.

Arábica

Sttela destaca que existe uma iniciativa para produzir o café arábica por reprodução vegetativa e não mais por meio de sementes. Os novos testes de germinação que conduz também podem ser úteis para aferir a qualidade do grão para bebida. Resultados recentes de pesquisas comprovam a correlação entre parâmetros químicos e sensoriais com variáveis da qualidade fisiológica e bioquímica dos grãos de café.

“Há evidências de que o teste de germinação poderá ser utilizado como um marcador fisiológico da qualidade de bebida do café, dando ao produtor uma opção a mais para a tomada de decisão sobre os destinos de lotes de café, em função da qualidade. Em contrapartida, poderá ser exigido mais do produtor de sementes, inclusive melhores padrões de germinação”, diz a pesquisadora, que apresentará esse trabalho no Congresso Internacional sobre Ciência do Café (ASIC), na Costa Rica, em novembro próximo.

Longo caminho

A pesquisadora enfatiza a importância desses estudos para o processo de validação da nova metodologia de avaliação de sementes de café. Porém, trata-se de um processo demorado. “Para propor e legitimar uma nova metodologia há um longo caminho a ser seguido, desde a definição da metodologia até a verificação de sua validade e eficácia para outras cultivares e diferentes níveis de qualidade, uma vez que implica mudanças nas regras oficiais de análise de sementes”, finaliza.

Fonte: Marcelo Pimentel/Portal Dia de Campo

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