Publicado em: 20/09/2021 às 08:20hs
O manejo eficiente de potássio na cafeicultura ainda é um desafio para muito agricultores, visto que ele é o segundo nutriente mais demandado pela cultura, especialmente, em plantas mais velhas. Conheça as cinco melhores estratégias para melhorar o manejo desse nutriente na cultura do café.
O potássio (K) é um macronutriente que exerce um importante papel na fotossíntese, respiração e circulação de seiva das plantas e está presente em diversos fertilizantes, como:
Mas, apenas a adição de fontes de potássio no solo não é suficiente para garantir uma boa eficiência do nutriente na cultura do café, como destacado no Manual do café: manejo de cafezais em produção, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado Minas Gerais (Emater-MG).
O que, então, é necessário para proporcionar uma nutrição de potássio adequada para os cafezais?
Uma recomendação assertiva de adubação potássica para uma lavoura de café não considera apenas o uso de valores de referências descritos em diversos livros e pesquisas. Ela envolve a coleta e interpretação aprofundada de dados de todo o agroecossistema, considerando:
Todos esses dados evitam a subestimação ou superestimação das exigências nutricionais da lavoura, considerando seu potencial produtivo.
Para atenuar o fenômeno da bienalidade do café, por exemplo, Antônio Carlos Ribeiro e os demais autores do livro 5ª Aproximação recomendam que a determinação da faixa de produtividade, para efeito de cálculo da adubação, pode ser feita de duas formas diferentes.
Se a produtividade esperada do ano em que se está trabalhando for inferior à metade daquela obtida no ano anterior (de alta), determina-se a faixa de produtividade como sendo a média entre as duas.
Já nos casos em que não houver produção, como é o caso das lavouras em formação ou ainda que tenham sofrido um processo de poda, a faixa de produtividade a ser considerada para o cálculo da adubação deve ser de fato a esperada.
O ajuste mais fino da adubação pode ser feito, principalmente, através da análise foliar. Ela além de orientar o agricultor na correção de possíveis deficiências de micronutrientes, se torna uma importante ferramenta capaz de verificar as relações entre nutrientes, especialmente nitrogênio e potássio.
O desbalanceamento nutricional tem reflexos na produtividade e na qualidade do café, uma vez que pode gerar problemas tanto de ordem nutricional, quanto de exposição da planta a doenças, como exposto no artigo Relação nitrogênio/potássio com mancha de Phoma e nutrição de mudas de cafeeiro em solução nutritiva.
No estudo, Luciana M. de Lima e os demais pesquisadores observaram que a nutrição balanceada, além de minimizar alterações nutricionais, pode ser manipulada para reduzir o número de pulverizações com fungicidas.
O café ainda é uma cultura que apresenta uma grande diversidade na intensidade de mecanização em diferentes partes do país. Entretanto, um aspecto principal da aplicação de fertilizantes não muda: a área de aplicação.
Um dos principais parâmetros que vai orientar o melhor local para aplicação dos fertilizantes são as raízes das plantas. Quanto mais próximos das raízes, menores serão as perdas de nutrientes por lixiviação e volatilização e mais eficiente será o aproveitamento dos nutrientes pelas plantas.
manejo de potássio na cafeicultura
Distribuição espacial do potássio (mh.dm-3) e da produtividade (L.planta-1) de lavoura de cafeeiro (Coffea arabica L.) da cultivar Topázio. (Fonte: FERRAZ, G. A. E. S. et al, 2012)
O Manual do café: manejo de cafezais em produção da EMATER –MG recomenda que a adubação será mais efetiva se feita debaixo da saia do cafeeiro, dos dois lados da planta.
Apesar da aplicação localizada aumentar o aproveitamento e o efeito residual dos fertilizantes, ela deve ser feita com cautela, principalmente, se os fertilizantes tiverem um elevado índice salino, como o Cloreto de Potássio (KCl).
O acúmulo excessivo de sais no solo altera o potencial osmótico. Com isso, o solo passa retirar a água de dentro das células dos microrganismos do solo e da planta, o que leva a morte microbiana e de raízes, em um processo chamado de plasmólise.
No artigo Crescimento de cultivares de cafeeiro conilon submetidas ao estresse salino-hídrico, Amansleone Da Silva Temoteo e demais pesquisadores observaram que a salinidade afetou negativamente a massa de matéria seca de folha, caule, ramo e raiz de duas cultivares de café.
O potássio é um macronutriente capaz de mitigar alguns tipos de estresses abióticos, permitindo que o cafezal possa resistir mais nos períodos secos ou frios, por reduzir as perdas d’água e ainda conferir uma maior concentração de solutos na planta.
Mas, a relação inversa também acontece, porque os nutrientes precisam encontrar condições adequadas para que estejam disponíveis e sejam absorvidos.
A difusão, por exemplo, é o principal mecanismo de transporte do potássio até as raízes da planta, um processo altamente dependente da água do solo. Ou seja, se o solo apresenta uma baixa disponibilidade de água, mesmo em condições com um suprimento adequado de potássio, pode-se observar sintomas de deficiência no café, como:
Nesse sentido, é muito importante investir em práticas capazes de mitigar os efeitos dos estresses abióticos na disponibilidade e absorção do potássio.
Na entrevista realizada pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), o cafeicultor Edney Acerbi relatou que utilizou a palhada gerada no beneficiamento, restos vegetais da poda e da desbrota do café para mitigar os efeitos da seca e observou resultados muito benéficos:
“De primeira mão, percebemos os efeitos no solo. Passamos a trabalhar com um solo muito mais enriquecido e a incorporação da matéria orgânica ficou visível. Dessa forma, há menos necessidade de adubação e a absorção de água é maior. É possível ver o resultado na planta a cada renovação da cobertura morta.”
A utilização da palhada gerada no beneficiamento do café gera economia nos gastos com a adubação, porque ele é acumulado em grandes quantidades nos frutos e com isso minimiza a exportação de potássio da lavoura.
A plantas espontâneas nas linhas e entrelinhas do café precisam ser manejadas adequadamente, pois podem ser responsáveis por extrair nutrientes do solo que seriam usados pelo café, como o potássio. Os prejuízos causados dependem de alguns fatores, como:
O controle das plantas espontâneas deve ser mais intensivo e frequente, principalmente, no período chuvoso, pois coincide com as épocas de maior demanda por nutrientes do cafezal, devido ao maior crescimento vegetativo, à floração e ao desenvolvimento dos frutos.
Em condições de competição, as plantas daninhas podem afetar negativamente a concentração de potássio nas plantas de café. (fonte: FIALHO, C. M. T. et al, 2012)
O Manual do café: manejo de cafezais em produção da EMATER –MG recomenda que o manejo nas entrelinhas do cafezal pode ser realizado tanto em área total ou em ruas alternadas.
Já nas linhas da lavoura, ele pode ser feito com métodos de controle físicos e/ou químicos, sempre com uma maior cautela nas fases iniciais de desenvolvimento da cultura.
Quando falamos em adubação potássica, um aspecto muito importante que precisa ser levado em consideração pelos cafeicultores é o impacto que alguns fertilizantes podem ter na qualidade do café.
Fontes ricas em cloro, como o Cloreto de Potássio (KCl), podem comprometer a atividade de uma enzima que está significativamente ligada à qualidade da bebida, a polifenoloxidase.
O Doutor em Ciência do Solo Enilson de Barros Silva, no seu estudo Qualidade de grãos de café beneficiados em resposta à adubação potássica, demonstrou que o cloro provoca a redução da atividade da polifenoloxidase.
Então, é importante que o cafeicultor saiba avaliar as diferentes fontes de potássio disponíveis no mercado, como:
Mesmo sendo apresentadas de forma isolada, o manejo eficiente de potássio na cafeicultura só se concretiza com a utilização de diversas estratégias, que vão desde a coleta de dados até a escolha do fertilizante mais adequado para sua lavoura.
Para isso, o cafeicultor deve buscar ter uma visão holística de todo o seu agroecossistema, potencializando as diversas relações benéficas que ali se estabelecem e mitigando problemas que possam comprometer o desempenho das suas estratégias.
Fonte: Verde
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