Publicado em: 22/01/2009 às 09:45hs
Apesar de os preços do café no mercado interno estarem ligeiramente maiores na atual safra (2008/09), os patamares ficaram abaixo do mínimo necessário para cobrir os gastos com a cultura. Entre julho e dezembro deste ano, principal período de comercialização, a média do Indicador mensal CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6 bebida dura para melhor foi de R$ 256,85/sc de 60 kg (posto em São Paulo), pequena alta de 1,7% sobre o mesmo intervalo de 2007.
Segundo levantamento da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), o custo médio total da saca de 60 kg de café arábica beneficiado nas regiões produtoras – sem considerar a qualidade do grão – é de R$ 270,00, para a safra 2008/09, enquanto o operacional (somente os desembolsos com a cultura) fica em R$ 260,00. Nesse sentido, os custos acima da remuneração obtida em 2008 podem limitar investimentos neste ano.
O Brasil colheu uma grande safra de café em 2008, confirmando expectativas do setor. O acréscimo é devido à bienalidade positiva da cultura e recuperação parcial das lavouras, com a regularização das chuvas a partir de novembro de 2007, associadas aos bons tratos culturais. Já a temporada 2009/10 de café arábica deverá ser inferior à atual, devido sobretudo à bienalidade negativa da cultura. Pesam também para a redução da produtividade nas lavouras os menores investimentos em tratos culturais, como aplicação de fertilizantes e pulverizações.
Conforme a primeira estimativa da safra 2009/10 divulgada no dia 8 de janeiro pela Conab, a próxima safra de arábica e robusta será de 36,9 a 38,8 millhões de sacas de 60 kg, redução de 19,8% a 15,6% frente à temporada anterior. Além da queda na produção 2009/10, os estoques mundiais limitados e a expectativa de que a demanda global não deva apresentar redução significativa em 2009 podem impulsionar as cotações do produto no decorrer da próxima safra. O cenário positivo de preços, no entanto, ainda pode ser limitado pelo panorama de desaceleração da economia mundial.
A concentração de oferta de café brasileiro no último trimestre somada à crise mundial reforçaram a pressão sobre os futuros do grão. Em dezembro, o contrato Março/09 esteve cotado ao redor de 110 centavos de dólar por libra-peso na bolsa de Nova York (ICE Futures). No físico, contudo, a valorização do dólar frente ao Real contribuiu para sustentar os preços em dezembro – a média mensal do Indicador CEPEA/ESALQ ficou em R$ 262,04/sc de 60 kg. Agentes do setor comentam que, apesar das dificuldades com crédito, boa parte das empresas pode comprar um bom volume de arábica nos próximos meses, uma vez que a oferta de café 2009/10 será apertada para atender a demanda.
CONILLON
Em 2008, a colheita de robusta no Espírito Santo começou entre abril e maio, enquanto em Rondônia, segundo maior produtor nacional da variedade, teve início um pouco antes, em março. Em ambos os estados, as atividades de campo terminaram em julho. No ES, as chuvas nos primeiros meses de 2008 foram benéficas às lavouras, mas não suficientes para aumentar o calibre do grão, que foi menor por conta da seca durante o desenvolvimento das floradas. Desse modo, foram necessários mais grãos de robusta para completar uma saca de 60 kg. Com a oferta reduzida do tipo 6 peneira 13 acima, as comercializações estiveram limitadas para este tipo no final de 2008.
No caso de Rondônia, as chuvas ocorridas em agosto de 2008 favoreceram a abertura das primeiras floradas no parque cafeeiro local. Já nas áreas capixabas, o volume hídrico não foi suficiente para estimular florações naquele período. A estiagem deixou produtores da região preocupados quanto à produtividade da próxima safra (2009/10). Na segunda quinzena de setembro, com o clima favorável, novas floradas de robusta abriram de forma satisfatória em boa parte dos cafezais capixabas e rondonienses. Neste sentido, a safra 2009/10 de robusta poderá ser inferior à 2008/09, de acordo com agentes de mercado consultados pelo Cepea. Apesar de a variedade sofrer menor influência da bienalidade da cultura, o clima desfavorável no período de desenvolvimento de floradas pesou para a redução da produtividade nas lavouras.
De acordo com a primeira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) da safra 2009/10, divulgada dia 8 de janeiro, a produção de robusta deverá ser de 10 a 10,5 milhões de sacas de café beneficiado, o que indica desde uma redução de 4,5% a um acréscimo de 0,4% frente à temporada anterior. O Espírito Santo se destaca como o maior produtor da variedade, com 69,1% da produção.
Entre julho e dezembro de 2008, o robusta tipo 6 do ES teve média de R$ 219,27/sc, valor superior ao comercializado no mesmo período do ano anterior, de R$ 204,44/sc. Comparado ao custo estimado por saca de robusta no ES pela Conab para esta safra, a remuneração do produtor ficou abaixo do ideal, tendo em vista que o custo total de produção foi R$ 261,40/sc. O custo operacional (somente os desembolsos) foi de R$ 240,95/sc.
Em dezembro, um volume um pouco maior de robusta brasileiro foi demandado para exportação, no intuito de cobrir o atraso na colheita do Vietnã, sustentando s preços no início de dezembro. Com a aproximação das festas de fim-de-ano, contudo, a falta de interesse de compradores desacelerou o ritmo de negociações no final do mês.
Exportação – De acordo com levantamento do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), as exportações brasileiras de café (verde e solúvel) registraram recorde em 2008, tanto em volume como em receita. O montante obtido alcançou US$ 4,7 bilhões, reação de 23% sobre o ano anterior (US$ 3,8 bilhões). O volume embarcado atingiu 29,383 milhões de sacas de 60 kg, aumento de 4,4% sobre 2007 (28,154 milhões). Do total de grão verde exportado no período, as vendas de arábica tiveram elevação de 2,6% em volume, de 23,410 milhões de sacas para 24,024 milhões. Para o robusta, houve crescimento de 48,1% no período, de 1,397 milhão de sacas para 2,068 milhões.
Análise do mercado cafeeiro elaborada pelo Cepea. Equipe: Margarete Boteon, Daiana Braga, Mayra Viana e Camila Pirillo.
Fonte: Cepea
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