A terra bem adubada e fortalecida pela rotação de culturas deve receber a cultivar que servirá de alimento para as novilhas criadas na propriedade, durante o inverno. É possível realizar dois pastoreios antes do rebrote final. Após emitir espiga e maturar, o trigo tipo pão será colhido e o grão será destinado para a indústria.

Boa opção para integração lavoura-pecuária durante o inverno, o trigo de duplo propósito pode ser utilizado como forragem, e o grão obtido na colheita pode ser comercializado para moinhos, cooperativas, cerealistas e demais indústrias interessadas no produto. Essas características estão chamando a atenção dos agricultores e aumentando a demanda pela semente. Ruben Kudiess, da Sementes Cometa, com sede em Chiapeta (RS), está satisfeito com a boa procura pelo BRS Tarumã. “Esse resultado é fruto de um trabalho de longo prazo e do esforço para quebrar paradigmas e conquistar clientes satisfeitos”, afirma.

Enquanto a maioria das cultivares é semeada entre maio e junho, o BRS Tarumã, resultado de uma parceria entre a Fundação Pró-Sementes e a Embrapa Trigo, deve ser plantado em abril, cobrindo a terra logo após a colheita da soja. “Além de colaborar com a conservação do solo, essa medida racionaliza o uso de máquinas, implementos e mão de obra”, aponta Kudiess. O trigo de ciclo tardio é indicado para as regiões tritícolas do RS e de SC, além da Região 2 do PR.

Em termos de valor nutricional para os animais, o BRS Tarumã se assemelha a outras culturas de inverno, como aveia preta e centeio, que se diferenciam das forrageiras de verão por apresentarem maior índice de proteína, conforme explica o pesquisador da Embrapa trigo, Henrique Pereira dos Santos.

Mesmo sendo uma cultivar tolerante ao pisoteio animal, é preciso tomar alguns cuidados antes de colocar os animais para pastar. De acordo com Santos, o primeiro pastoreio deve acontecer dois meses após a semeadura, ou quando a planta apresentar altura mínima de 25 centímetros.

A coordenadora da unidade de cultivos de inverno da Fundação Pró-Sementes, Kassiana Kehl, recomenda que seja feito o pastoreio rotativo, sob forma de piquetes. Não é aconselhável largar os animais quando o solo está muito úmido, bem como sobrecarregar a área de animais. “Isso aumenta a compactação do solo e diminui a capacidade de rebrote das plantas”, explica a agrônoma.

Após cada corte, é necessário repor o nitrogênio, através da aplicação de uréia, para que a planta brote novamente. Além disso, o BRS Tarumã é suscetível a ferrugem da folha e demais doenças foliares, o que exige uma atenção por parte dos produtores.

Com boa capacidade de afilhamento, a cultivar alcança uma altura relativamente baixa, mas compensa pela quantidade de espigas por metro quadrado. “O BRS Tarumã perfilha mais que os trigos normais”, assegura o pesquisador Henrique Pereira dos Santos.

Outra vantagem do trigo de duplo propósito é a flexibilidade na estratégia de exploração agropecuária. Quem optar por utilizar o BRS Tarumã apenas como forrageira, pode obter de três a quatro cortes. Para cultivar somente o grão, Santos recomenda o plantio cerca de 20 dias antes da época normalmente recomendada para a semeadura do trigo. Nesse caso, de acordo com Kudiess, a produtividade gira entre 35 a 65 sacas por hectare. “Na integração lavoura-pecuária, com 60 dias de pastejo, a produtividade fica entre 25 e 65 sacas por hectare”, complementa. “O melhor é que esta flexibilidade pode ser gerenciada a qualquer momento; mesmo após o início do empreendimento, o agricultor pode redirecionar o negócio para o que melhor convém”, afirma Ruben Kudiess.