Aveia, Trigo e Cevada

Trigo: Cultura avança no Cerrado

A área potencial para trigo no Brasil Central chega aos 2 milhões de hectares, mas estima-se que apenas 5% dessa área seja cultivada com o cereal na região


Publicado em: 06/08/2013 às 12:30hs

Trigo: Cultura avança no Cerrado

A pesquisa com trigo no Cerrado começou na década de 1950, mas levou outros 50 anos para conquistar o reconhecimento do poder público, principalmente por intermédio da criação de programas de desenvolvimento da cultura em clima tropical. A área potencial para trigo no Brasil Central chega aos 2 milhões de hectares, mas estima-se que apenas 5% dessa área seja cultivada com o cereal na região.

Para mudar essa realidade, a Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS) está instalando o Núcleo Avançado de Pesquisa de Trigo Tropical, que tem como sede a Fazenda Itiguapira, a 30km de Uberaba (MG). O investimento estimado será de R$ 2,5 milhões para a construção de prédios, laboratórios e campos experimentais e a conclusão das obras está prevista para 2014.

De acordo com a chefe de Pesquisa da Embrapa Trigo, Ana Christina Albuquerque, a escolha de Minas Gerais para sede do Núcleo se deve a uma série de fatores. “Trata-se de uma região central representativa, com estabilidade climática e estações bem definidas, principalmente inverno seco”, destaca Ana Christina, citando ainda a demanda da indústria moageira da região, o interesse dos produtores na rotação de culturas e o apoio do Governo do Estado, com suporte técnico da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) e de universidades e institutos de ensino da região.

A chefe de pesquisa destaca também a proximidade da região com outros estados produtores e com o Sudeste (maior centro consumidor de trigo), a possibilidade de produzir grãos de alta qualidade comercial em função do clima e o histórico de ações de pesquisa e fomento à triticultura no Estado.

Além da EPAMIG, estatal parceira na pesquisa, Minas Gerais conta um setor produtivo organizado e com o apoio do governo por meio do Programa de Desenvolvimento da Competitividade da Cadeia Produtiva do Trigo em Minas Gerais (COMTRIGO). “Primeiro, precisamos de instituições geradoras de conhecimento e, o segundo passo, é estruturar a assistência técnica e extensão rural, por meio da Emater, para a capacitação de técnicos nas regiões com potencial de cultivo de trigo”, afirma o coordenador do COMTRIGO, Lindomar Antônio Lopes.

Outra instituição que tem formado profissionais para trabalhar com o trigo é o Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM). “Nos próximos dois anos a cultura deve se expandir na região, já que agora o conhecimento começou a ser difundido. Nossos alunos precisam estar preparados para atender a essa nova demanda no mercado de trabalho”, conclui o diretor do IFTM-campus de Uberaba, Rodrigo Afonso Leitão.

Pesquisa aponta novas soluções

Na região do Cerrado podem ser desenvolvidos dois sistemas de cultivo: trigo irrigado, sob pivô central, com semeaduras a partir da segunda quinzena de abril; e trigo de sequeiro ou safrinha, semeado a partir da segunda quinzena de fevereiro.

De acordo com o Chefe Geral da Embrapa Trigo, Sergio Roberto Dotto, o trigo é a cultura de grãos preferida na rotação com feijão, hortaliças, milho e soja devido ao efeito supressor de plantas daninhas e quebra do ciclo de doenças como os fungos de solo. Contudo, como a estrutura de pivôs é destinada à cultura mais rentável no momento, a oportunidade de expansão do trigo no Cerrado está na ocupação das áreas ociosas onde não há irrigação, movimentando maquinário e mão-de-obra.

“O trigo irrigado conta com cultivares muito produtivas e de alta qualidade industrial, nosso desafio está no trigo de sequeiro, que ainda enfrenta limitações como a falta de água, que pode reduzir a produtividade, além da exigência de áreas com maior altitude”, avalia Dotto. A área com trigo irrigado tem se mantido em 58,8 mil hectares, com rendimentos médios de 5 mil kg/ha. No sistema de sequeiro, a área tem crescido nos últimos anos e chega próxima a 30 mil ha, com rendimentos de 3 mil kg/ha.

Na prática, mesmo sem a indicação da pesquisa, os produtores têm utilizado as cultivares indicadas para o sistema irrigado (como BRS 254 e BRS 264) em cultivos de sequeiro. É o caso do produtor Cláudio Isamu Okada, que plantou 400 hectares da cultivar 264 na Fazenda Liberdade, em Madre de Deus (MG). “No ano passado choveu bem e colhemos 70 sacos por hectares (sc/ha), mas neste ano a semeadura foi no solo seco e ficou mais de 40 dias sem chover o que, certamente, vai comprometer o rendimento, que não deve ultrapassar 40 sacos”, conta Okada.

O pesquisador Márcio Só e Silva, da Embrapa Trigo, explica que é alto o risco de manejar em sequeiro as cultivares indicadas para irrigação: “São cultivares altamente suscetíveis à brusone, principal doença da cultura no Cerrado, e necessitam ser plantadas mais tarde, reduzindo a expectativa de produtividade para escapar da doença”.

Comunicação e Transferência

Para a melhor orientação ao produtor, a pesquisa tem desenvolvido experimentos dentro das propriedades rurais, onde o acompanhamento direto nas lavouras permite maior interação com a tecnologia. Ao longo do desenvolvimento da cultura, são realizados dias de campo com estações sobre opções de cultivo, ajustes na época de semeadura, população de plantas, sementes, análise econômica, pragas e doenças.

“Somente no Sul de Minas são cultivados mais de 100 mil hectares com grãos que podem colocar o trigo no sistema de produção, cereal que conta hoje com apenas 10 mil hectares”, avalia o agrônomo da Syngenta João Paulo Mesquita, lembrando que a área deste ano deverá aumentar 34% em Minas e só não vai crescer mais por falta de sementes. Na última safra, as médias de produtividade no trigo de sequeiro ficaram entre 75 e 80 sc/ha, com os custos de produção variando de 18 a 22 sc/ha.

O produtor Eduardo Ashidani cultiva trigo há cinco anos em Madre de Deus, contando com 800 hectares nesta safra. Ele observa que, mesmo que os custos de produção aumentem em alguns anos, principalmente com o gasto em defensivos, o produtor da região não tem nenhuma boa alternativa para plantar nesta época, já que a legislação exige o vazio sanitário da soja e do feijão. “O rendimento no ano passado chegou a 73 sc/ha e deve cair para 50 sc/ha em função da seca logo após a semeadura. Também verificamos a incidência de brusone, que já afetou 5% da lavoura. Mesmo assim, plantar trigo é melhor do que deixar a terra parada”, explica Ashidani.

Na avaliação do produtor Eduardo Abrahim, da Associação de Triticultores do Estado de Minas Gerais (Atriemg), é preciso inserir o trigo no sistema de produção, sem olhar a cultura de forma isolada: “Adubamos bem a soja e não precisamos colocar adubo no trigo. Na população de sementes, é possível reduzir de 300 para 120 kg/ha. Para quem não tem semeadora, até o plantio a lanço tem apresentado bons resultados. Ou seja, é uma cultura simples, que não exige muito trabalho nas condições do Cerrado”.

Fonte: Embrapa Trigo

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