Apesar do desânimo dos produtores paranaenses, os preços do trigo tendem a subir no mercado externo e consequentemente no Brasil, consideram analistas. A expectativa é sustentada, sobretudo, na esperada quebra da safra da Europa. As importações do continente, que em 2010/11 atingiram 4,7 milhões de toneladas, devem chegar a 7,5 milhões de toneladas em 2011/12, conforme estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

 

As perdas na Ucrânia e Rússia são projetadas entre 10% e 15% e isso pode ampliar a demanda pela produção norte-americana, afirma o analista Jack Scoville, da Price Futures, de Chicago (EUA). Ele lembra que nas últimas semanas o país enviou cerca de 200 mil toneladas de trigo para a Espanha, o que pode ser interpretado como um sinal da escassez do produto no continente europeu.

 

O México, que também deve registrar quebra de safra neste ano, é outro possível grande comprador de trigo. Para Steve Cachia, da Cerealpar, que tem sede em Curitiba, o quadro de quebra de produção de trigo em outros países tende a interferir no mercado brasileiro e “pode ser um bom momento para o produtor, pelo menos até o mercado se definir”, diz o analista, que no próximo mês representa o Brasil em um congresso mundial de grãos, em Dubai (Emirados Árabes).

 

O resultado da competição por área entre soja e milho nos Estados Unidos é o ponto de partida para definição do futuro do trigo. Por enquanto, os rumores são de que o milho ganhará mais área. “Como a situação de soja e milho nos Estados Unidos é apertada, a briga por área vai ser acirrada. O mercado ficará nervoso até a safra norte-americana ser totalmente garantida”, considera Cachia. Coadjuvante nesse quadro, o trigo tende a pegar carona nas tendências de preço.

 

Para o analista da Informa Economics FNP, Aedson Pereira, os preços do trigo e do milho chegaram em uma encruzilhada, estão nos mesmos patamares, mas tendem a se descolar com a definição da safra norte-americana. “O normal é que o trigo valha mais que o milho. O próprio USDA já reconsiderou a sua projeção de preços médios dos cereais, subindo o mínimo do trigo para US$ 7,15 por bushel e reduzindo o do milho para US$ 5,80 por bushel na próxima temporada”, argumenta o especialista.