Publicado em: 20/09/2013 às 12:30hs
As condições climáticas no final do ciclo da cultura vão definir mais da metade da safra brasileira. Geadas tardias, doenças de espiga e chuva na colheita são os fantasmas que assombram o produtor gaúcho.
De acordo com o último levantamento da Emater/RS (12/09/13), o trigo está na fase de desenvolvimento vegetativo em 50% das lavouras. A outra metade atravessa as fases de floração e enchimento de grãos. “De maneira geral não houve danos com as geadas, granizo ou chuvas excessivas ocorridas recentemente, sinalizando até o momento rendimentos acima das expectativas iniciais, o que poderá gerar uma boa safra para o Estado”, avalia o assistente técnico da Emater/RS, Ataídes Jacobsen.
Contudo, grande parte da frustração com a safra 2012 foi resultado das geadas em setembro, conhecidas como geadas tardias, principalmente a forte incidência em 26/09. De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, João Leonardo Pires, a geada caracteriza-se pela falta de regularidade cronológica, ou seja, não existe uma previsão exata sobre quando e onde vai ocorrer o fenômeno. “A maior probabilidade é de gear em regiões de maior altitude, mas geadas tardias podem ocorrer em todas as regiões”, esclarece Pires.
A sensibilidade do trigo à geada vai do florescimento à maturação, sendo que os danos diminuem a medida que evolui o estádio da planta. No emborrachamento, geadas severas podem causar o estrangulamento do colmo, interrompendo a passagem da seiva para as folhas e espigas; no florescimento a geada pode causar o abortamento de flores; no enchimento de grãos, quando os grãos estão em estado aquoso ou passando para leitoso, a geada pode estagnar o crescimento do grão; e no espigamento, a geada pode causar desde falhas na granação até a morte das espigas. Até o momento, a pesquisa ainda não conseguiu identificar uma diferenciação genética entre as cultivares quanto à tolerância aos danos por geada, principalmente na floração. “No Rio Grande do Sul, o maior risco de perda por geadas é quando estas ocorrem no mês de setembro quando, normalmente, a maior parte do trigo já atingiu o espigamento”, conclui João Leonardo Pires. Ele lembra que a avaliação dos danos deve ser realizada entre sete e dez dias após o evento, e não apenas no final da safra para evitar a soma de outros fatores, como doenças, que podem atrapalhar a real dimensão dos danos.
Giberela
A partir do espigamento o trigo fica suscetível também à giberela, doença causada por fungo que ataca a espiga, comprometendo o rendimento e a qualidade dos grãos, além do risco de contaminação por micotoxinas. Para minimizar os danos, a pesquisadora da Embrapa Trigo, Maria Imaculada Pontes Moreira Lima recomenda acompanhar diariamente as previsões climáticas: “A ocorrência de giberela depende de precipitações pluviais elevadas, ou seja, dias consecutivos de chuva. A temperatura entre 20 e 24 ºC, típica de primavera, é uma porta aberta para a doença”, alerta a pesquisadora, lembrando que o controle com o uso de fungicidas não tem eficiência por completo, resolvendo em 50 a 70% no combate ao fungo, quando as aplicações são preventivas. “Se chover logo após a aplicação, a chuva lava o defensivo e deixa o trigo desprotegido novamente”, diz Imaculada.
Germinação pré-colheita
O final do ciclo do trigo também é afetado pelo risco de chuva no período da colheita que pode resultar na germinação dos grãos ainda na espiga. Este fenômeno é mais frequente nas regiões mais quentes, onde as temperaturas elevadas diminuem a dormência dos grãos. Além de diminuir o rendimento, a germinação afeta diretamente o PH do trigo, reduzindo a qualidade tecnológica e o valor comercial dos grãos.
Recomendações
Para o pesquisador Eduardo Caierão, o produtor deve escolher cultivares mais tolerantes à germinação pré-colheita e às doenças relacionadas ao clima, além de escalonar a semeadura, observando sempre o zoneamento agrícola que estabelece as épocas de semeadura com menor risco para cada município. Mas a recomendação só é válida na implantação da lavoura, a partir de agora o produtor precisa monitorar o desenvolvimento da lavoura, o risco de doenças e acompanhar as previsões climáticas até a colheita. “Em caso de previsão de excesso de chuva próximo à colheita, a antecipação da operação, levando em consideração os aspectos fisiológicos da planta, é uma das estratégias para evitar a germinação pré-colheita. Por vezes, vale a pena colher o trigo com maior umidade ao invés da lavoura ficar sujeita a mais chuvas na maturação. Entretanto, é preciso considerar as questões práticas da colheita, como a debulha mecânica, e os custos da secagem dos grãos. O produtor deve avaliar em faixas de lavoura se o trigo já pode realmente ser colhido e considerar a relação custo/benefício da antecipação”, alerta Eduardo Caierão. Ainda, mediante ocorrência de germinação pré-colheita, a recomendação é separar os grãos germinados dos não germinados para evitar a desqualificação de todo o lote colhido.
Para giberela, o programa Sisalert (disponível no site http://sisalert.com.br) permite avaliar o risco da doença a partir do registro da data de espigamento, cruzando dados com as previsões climáticas para os próximos 15 dias. Uma ferramenta a mais para monitoramento da lavoura neste período de risco.
Fonte: Embrapa Trigo
◄ Leia outras notícias