Aveia, Trigo e Cevada

Momento histórico para o trigo gaúcho

A elevação do custo da importação e a válvula de escape via exportações, devem garantir liquidez para a comercialização do trigo gaúcho


Publicado em: 11/09/2012 às 12:50hs

Momento histórico para o trigo gaúcho

Os triticultores gaúchos vivem momento histórico. Além do preço estar entre os três melhores já recebidos, o cenário favorece as exportações, garantindo a liquidez do cereal – um dos principais entraves da cultura. Além do custo total da lavoura poder ser pago nesta safra, produtores vão conseguir ainda, uma lucratividade a mais. Até o momento, cerca de 50% da safra que ainda está na lavoura já foi comercializada. Situação atípica com o trigo. E a tendência para os próximos meses, é dos preços continuarem em alta.

A safra passada de trigo no Rio Grande do Sul foi escoada em grande parte para o mercado internacional, com o auxílio dos leilões de PEP (Prêmio para Escoamento do Produto). Assim, há poucos lotes disponíveis no mercado gaúcho. As indicações que estavam sem cotação são as de mercado de balcão e ficaram assim por cerca de quatro meses. As indicações que tinham eram apenas nominais. Agora, com a alta significativa no mercado interno, as cooperativas voltaram a indicar preços, que são para lotes remanescentes da safra velha e uma indicação do que deverá ser o preço da próxima safra. No momento, a saca de 60 quilos está cotada em torno dos R$ 30,00. “Os produtores gaúchos terão um ano bastante promissor em termos de cotações”, afirma o analista de mercado da Safras & Mercado, Elcio Amarildo Bento.

O motivo para a elevação dos preços do trigo no Brasil deve-se a quebra da safra mundial e ao câmbio acima de R$ 2,00, porque sem o trigo da ex-URSS, os compradores precisam achar uma alternativa. Desta forma, o cereal gaúcho encontra uma boa lacuna para a comercialização, a preços atrativos aos produtores.

Porém, não há quase nada em estoque da safra passada. Conforme o analista, o que vale mesmo é a indicação - que é de preços entre R$ 28 e R$ 30,00 por saca (trigo com ph78). “O que é um preço bastante superior aos praticados nos últimos anos e superior ao preço mínimo do governo. A comercialização do trigo gaúcho tem tomado um formato diferente ha três safras. O principal destino do trigo gaúcho é o mercado externo quando as cotações no Brasil estão abaixo do preço mínimo. Assim, o governo realiza leilões de PEP e escoa o cereal da região para o mercado externo. Neste ano, a boa procura internacional já garantiu a venda de mais de 500 mil toneladas para o estrangeiro. Desta vez, sem o auxílio do governo, pois os preços externos estão garantindo vendas acima do preço mínimo”, diz.

Exportações auxiliando na liquidez do cereal


A produção gaúcha tende a continuar com esta configuração, em que o mercado externo é cada vez mais o principal destino, seja quando o preço interno está baixo, ou quando os preços internacionais abrem o mercado para o cereal.

Neste ano, a quebra da safra na região da ex-URSS, com um recuo de 32 milhões de toneladas, faz com que o mundo busque alternativa para suprir esta ausência e, o trigo gaúcho é uma destas opções.

Além da oportunidade de exportação ainda maior, os preços elevados se tornaram uma atração aos produtores que já comercializaram cerca de 50% da safra que ainda está na lavoura. Conforme Bento, está não é uma pratica comum em triticultura. “O diferencial da safra 2012 é que antes mesmo do trigo germinar, já haviam vendas fechadas para o mercado interno. E com a quebra da safra na Ex URSS, os compradores bateram a porta do mercado gaúcho, assim foi possível fechar contratos antecipados. Já quando os preços estão muito baixos, o governo entra no mercado depois que é feita a colheita do cereal”, explica.

Bento destaca que dificilmente ocorre a venda antecipada de trigo. Segundo ele, foram registrados em três oportunidades: em 2008, ano de recorde de preços devido à escassez externa; em 2010/11 quando a ex-URSS quebrou e, na safra atual. “Agora o apetite é maior que nas duas oportunidades anteriores. E a diferença é que para exportação existe a possibilidade de garantir preço antes mesmo da colheita. Já o risco fica em uma eventualidade climática, de não conseguir cumprir os contratos preexistentes”, explica.

O soft dos EUA é a principal alternativa se aumenta a demanda pelo trigo dos EUA, os preços sobem. Como nos EUA subiu e na Argentina também pode haver elevação, sem perder a competitividade, os moinhos que vão comprar da Argentina tem que pagar mais. Neste caso, o produtor do RS pode pedir mais pelo cereal. A idéia é que com o custo de importação, favorece a comercialização do trigo nacional e os mesmos fatores, quebra da safra mundial, alta dos preços e taxa cambial, abram as portas do mercado externo para as exportações.

Neste ano o volume exportado deve ser um pouco maior do que 1,34 milhão de toneladas exportadas no ano passado, porém Bento salienta que há uma diferença fundamental que merece destaque: no ano passado foi vendido porque o governo auxiliou com o PEP. Neste ano, é o mercado que está pagando, sem a intervenção do governo.

Custo de produção

Assim como aconteceu em 2008, com os preços altos recebidos pelos produtores, eles tendem novamente a conseguir cobrir o custo total da produção. Uma vez que, historicamente, com os problemas enfrentados pela cadeia tritícola, o produtor consegue apenas cobrir o custo operacional. “Neste ano, será possível pagar o custo total e ainda, obter uma lucratividade a mais”, diz.

O motivo do preço do trigo ser o segundo mais alto da história, ficando atrás somente de 2008, é a combinação do câmbio (dólar) acima de R$ 2,00 e os baixos estoques mundiais.

“É preciso ressaltar também que, apesar desta válvula de escape das exportações, mudando a configuração da produção gaúcha, não pode-se subestimar a importância das aquisições pela indústria do Rio Grande do Sul. A exportação é uma alternativa ao baixo dinamismo do mercado tritícola, mas as compras por moinhos internos ainda são fundamentais”, acrescenta.

Diante do cenário internacional, com preços elevados, os moinhos vão acabar buscando mais o trigo no mercado interno. De acordo com o analista, a principal reclamação é que o cereal nacional não tem a mesma qualidade que o trigo importado. Por este motivo, anualmente, são importados grandes volumes. Entretanto, neste ano, o trigo nacional pode ser uma alternativa para reduzir o custo do importado.

Ano com variáveis positivas


A área cultivada com trigo no Estado passou de 935 mil para 980 mil hectares – um aumento de 5% comparado com a safra passada. A estimativa é de uma produção de 2,65 milhões de toneladas, contra 2,64 milhões de t da safra anterior. Da safra atual, que ainda está na lavoura, estima-se que mais de 1 milhão de toneladas, ou seja, cerca de 50% já tenha sido comercializada.

Para o analista de mercado, os triticultores estão em um ano em que as variáveis são positivas para a formação de preços e que o trigo poderá compensar parte das perdas da última safra de verão. Porque, na realidade, ás vezes a comercialização pode ser complicada por questão de logística e, neste ano, mais da metade da safra já está com a comercialização garantida.

Entre os gargalos da cultura, Bento destaca a falta de espaço para armazenagem. Por conta dessa situação, muitos produtores acabam vendendo com preços ruins para abrir espaço para a entrada da safra de verão (milho e soja).

Fonte: Diário da Manhã - Passo Fundo

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