O mercado de trigo enfrenta um cenário de alta complexidade, impactado por uma combinação de fatores climáticos, geopolíticos e econômicos. Este foi o tema do webinar "Mercado de Trigo – Desafios e Oportunidades para a Nova Safra", promovido pelo Sindicato da Indústria do Trigo do Estado de São Paulo (Sindustrigo) na segunda-feira (10/2), que contou com a participação de especialistas da área.

Durante o evento, o consultor em Gerenciamento de Riscos da StoneX, Jonathan Pinheiro, destacou a importância de uma análise detalhada dos fatores externos que influenciam a precificação do trigo, dado o envolvimento de diversos players no setor. "Nos últimos anos, a precificação do trigo foi marcada por grandes oscilações, como em 2008, durante a crise financeira global, e em 2022, com o início do conflito entre Rússia e Ucrânia. Esses eventos externos são fundamentais para entender a volatilidade do grão", afirmou Pinheiro.

Desafios Climáticos e Logísticos para a Nova Safra

A nova safra de trigo enfrenta incertezas quanto à produção, com destaque para fatores climáticos e desafios logísticos que afetam a oferta mundial do grão. No Brasil, a estimativa de produção para o ciclo 2024 é de 7,8 a 8 milhões de toneladas, uma queda em relação à safra anterior. Como consequência, as importações brasileiras devem aumentar, atingindo 6,5 milhões de toneladas.

Pinheiro também apontou que a competitividade nos portos brasileiros prejudica o escoamento do trigo nacional. "As exportações podem diminuir, especialmente devido à competição com a soja nos portos de Rio Grande, além das restrições logísticas resultantes de eventos que ocorreram em maio do ano passado", explicou. Outro ponto observado é a disparidade de preços entre o farelo de trigo e o milho, com a relação entre os preços, que historicamente girava em torno de 85%, agora se encontrando em 60%.

Impactos Climáticos nos Principais Produtores Globais

Nos Estados Unidos, a seca é uma preocupação para a produção de trigo, especialmente no norte do país, onde o trigo de primavera pode ser comprometido. Além disso, o trigo de inverno corre o risco de ser afetado pela falta de uma camada protetora de gelo. No entanto, Pinheiro acredita que, apesar dessas adversidades, a recuperação da safra ainda é possível, e será necessário aguardar até abril ou maio para uma previsão mais precisa.

Na Europa, as chuvas excessivas têm causado dificuldades nas safras, mas há sinais de recuperação. A região também tem ampliado suas importações para equilibrar a oferta. Na Argentina, embora a produção de trigo enfrente desafios climáticos, a safra 2024/25 deve crescer, alcançando 17,5 milhões de toneladas. O aumento da exportação para mercados como o Brasil, onde a demanda por trigo argentino está em alta, pode gerar uma pressão sobre os preços internos.

O Impacto da Geopolítica no Mercado de Trigo

O conflito entre Rússia e Ucrânia continua a ter um papel decisivo na precificação do trigo. A reabertura do corredor humanitário ajudou a ajustar os preços recentemente, mas a Rússia mantém uma pressão constante sobre o mercado, com a imposição de novos pisos de preços. "A interação entre geopolítica, economia e oferta e demanda continua a ser crucial para o mercado de trigo. As variáveis que impactam a cotação do grão tendem a ser mais altistas do que baixistas", observou Pinheiro.

Além disso, a Índia, tradicionalmente um grande importador de trigo, pode enfrentar uma redução em sua oferta interna, o que deve aumentar a demanda por trigo de outras origens, como o brasileiro, e pressionar os preços globais.

Preços Firmes e Expectativas para o Futuro

Com o mercado global pressionado por diversas incertezas, a tendência é que os preços do trigo permaneçam elevados ou até aumentem. Segundo Pinheiro, uma queda nos preços só seria possível mediante um grande fator externo, como o fim do conflito Rússia-Ucrânia ou uma diminuição acentuada no consumo chinês de trigo.

A volatilidade e os desafios para o mercado de trigo devem continuar, mantendo o setor atento às dinâmicas globais que afetam tanto a produção quanto os preços do grão.