Publicado em: 20/12/2024 às 18:40hs
A recente valorização do dólar em relação ao real tem fortalecido a competitividade do trigo produzido no Rio Grande do Sul no mercado internacional. Segundo o analista Elcio Bento, da Safras & Mercado, esse movimento tem atraído as tradings para o estado, mesmo diante da demanda morna dos moinhos locais. Estima-se que o Rio Grande do Sul já exportou cerca de 1,5 milhão de toneladas de trigo: 720 mil toneladas de feed wheat e 735 mil toneladas de milling.
Inicialmente, a expectativa era que as exportações se concentrassem no feed wheat, usado para ração, devido à quebra de safra no Paraná e à esperada postura mais agressiva da indústria gaúcha. No entanto, a depreciação do real ampliou as oportunidades para o milling, trigo utilizado na produção de farinha, o que pode resultar em um mercado enxuto durante a entressafra, avalia Bento.
A indústria gaúcha projeta moer entre 1,85 e 2 milhões de toneladas de trigo, enquanto cerca de 1,455 milhão de toneladas já foram exportadas. Além disso, 300 mil toneladas foram destinadas a outros estados, 70 mil toneladas às indústrias nacionais de ração e 170 mil toneladas à produção de farinha. Assim, o saldo remanescente no mercado gaúcho é estimado em 1,855 milhão de toneladas.
Até o momento, os moinhos locais adquiriram menos de 300 mil toneladas. Caso o interesse dos compradores internacionais persista, os industriais gaúchos podem ser forçados a retornar ao mercado ou importar trigo na entressafra para atender à demanda. Apesar disso, a baixa procura por farinha, mesmo com a recente queda nos preços, dificulta a recuperação da indústria local.
Na quinta-feira, as tradings indicaram preços de R$ 1.390 por tonelada no porto para entrega em 30 de janeiro e R$ 1.405 por tonelada para o final de fevereiro. Esses valores elevaram a paridade de exportação para cerca de R$ 1.250 por tonelada no interior, acima do interesse de compra no mercado interno.
A colheita da safra de trigo de 2024 atingiu 100% da área estimada nos oito principais estados produtores do Brasil, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) com dados até 15 de dezembro. No Paraná, a produção está estimada em 2,363 milhões de toneladas, 35% abaixo da safra anterior. A área plantada reduziu-se para 1,148 milhão de hectares, enquanto a produtividade média caiu para 2.087 quilos por hectare, contra 2.634 quilos na temporada 2023.
Na Argentina, a colheita de trigo alcançou 76,1% da área, avançando 12,2 pontos percentuais na última semana, segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires. A produção estimada permanece em 18,6 milhões de toneladas, com 13,094 milhões já colhidas em 4,676 milhões de hectares. A área total plantada é de 6,3 milhões de hectares, acima dos 5,9 milhões registrados no ano passado.
O cenário aponta para uma dinâmica internacional aquecida, ao passo que os desafios internos no Brasil colocam em xeque a sustentabilidade da oferta local na entressafra.
Fonte: Portal do Agronegócio
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