Aveia, Trigo e Cevada

Em busca da solução para o trigo

Representantes da indústria, cooperativas, sindicatos, instituições de fomento, pesquisa, traindings, assistência técnica e extensão rural estiveram reunidos na última semana, em Passo Fundo, durante a realização do ?Seminário do Alinhamento Estratégico da Cadeia Produtiva do Trigo?, promovido pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio


Publicado em: 11/06/2012 às 19:00hs

Em busca da solução para o trigo

A partir de um diagnóstico do trigo no Estado, os participantes foram divididos em grupos para levantar alternativas capazes de amenizar os entraves da cultura. O documento final vai embasar políticas públicas e a própria organização da cadeia produtiva.

Na ocasião, representantes dos setores da produção, indústria e comercialização defenderam a criação de uma identidade para o trigo gaúcho, começando na uniformidade e estabilidade da produção, na organização da cadeia para se posicionar frente à traidings e moinhos (contratar especialistas que negociem em nomes dos produtores/cooperativas, investir em armazenagem para segregação), até a exigência da cobrança pela remuneração por qualidade. Outra intenção é profissionalizar o setor, através da capacitação mais intensa, desde assistência técnica até os técnicos que realizam análises nos moinhos e laboratórios de qualidade. A redução da área de cultivo nesta safra no Paraná é vista como oportunidade de revitalizar o espaço do trigo gaúcho no mercado nacional. Deverão acontecer ações de marketing mais agressivas para chamar a atenção de autoridades e compradores. Nos próximos dias, a Secretaria Estadual de Agricultura deverá apresentar uma política de apoio à cultura.

Conforme o secretário Estadual de Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, a intenção foi apontar quais os problemas e, a partir deles, ver quais as soluções, analisando o que cabe ao governo estadual, assim como o que cabe as instituições de pesquisa e extensão e também aos produtores e suas lideranças. “Temos realizado com todas as cadeias produtivas estes encontros, porque serve a partir da exposição de técnicos sobre o cenário do trigo no Rio Grande do Sul e Brasil e também no mundo, porque todo produto agrícola não pode ser pensado somente sob o ponto de vista regional, nem mesmo nacional. Nós dependemos do comportamento, o consumo mundial, se baixou não os estoques mundiais, o comportamento do clima mundial, precisamos estar atentos ao que está acontecendo”, explica.

Conforme Mainardi, o encontro foi centralizado em alguns pontos mais urgentes a serem trabalhados para que se possa implementá-los, viabilizando a cadeia produtiva e a consolidação da triticultura gaúcha. “Espero que consigamos uma política mais duradora para o trigo. Nós gaúchos produzimos pouco mais da metade do trigo brasileiro, então temos que ser mais ouvidos. Precisamos fazer com que nosso trigo tenha valor e que de garantia de renda ao produtor para que possamos aumentar a área de plantio”, conclui.

Genética: de 800 mil para 2,5 mil quilo por hectare

De acordo com o chefe geral da Embrapa Trigo, Sergio Dotto, cada setor presente no Seminário discutiu os gargalos que estão impedindo o desenvolvimento da cultura e como resolvê-los. Segundo ele, na parte genética houve uma grande evolução nas últimas décadas, pois os gaúchos saíram do patamar de 800 quilos por hectare na década de 60 chegando na atual década em 2.500 quilos por hectare. “Há um ganho genético de variedades e também no manejo gerado pela pesquisa e adotado pelos produtores”, diz.

Segundo Dotto, há material genético para produzir mais trigo e ainda há área sobrando no inverno que hoje pode ser ampliada dos 900 mil ha para 1,7 milhão de hectares - considerando somente 1/3 da área de soja e milho do RS. “Mas ai entram os gargalos. A questão da indústria, temos que produzir maior volume de variedades que atendam o mercado que o grande consumidor hoje é trigo pão. E outro gargalo que é a comercialização. Ai vem a questão de liquidez do produto, logística de transporte dos centros consumidores, ICMS entre os estados. São gargalos que vamos tendo com relação, principalmente, a comercialização do trigo, além do preço que está abaixo do custo de produção”, explica.

O Paraná aumentou a área de cultivo da safrinha de milho em detrimento do trigo, porque o milho está tendo maior liquidez. Mas na região fria do Sul do país não há essa opção. “Assim, o grande negócio é produzir trigo. Mas o que fazer com esse trigo? E ai vem outros gargalos que temos que apontar saídas para solucioná-los, que é onde colocar a produção em excesso no RS. Pois na última safra produzimos 2,7 milhões de toneladas t e consumimos 1,1 milhão de t. O restante temos que exportar para outros estados ou outros continentes, como A áfrica. Temos que buscar comércio exterior, clientes, produzir trigo de qualidade e quantidade uniforme durante todos os anos. Organizar os setor”, conclui.

A discussão

“Sabemos que hoje produzimos 50% do que o país consome e, em contrapartida, o RS produz mais do que consome e temos dificuldade de comercialização. O desafio é discutirmos a produção, a comercialização, industrialização, e o papel das entidades e do governo para equacionarmos a questão. O trigo é um produto de extrema importância para a economia, principalmente do Rio Grande do Sul. O que vamos fazer no inverno como produtores se não tivermos trigo? Diferente de outros estados como o Paraná que diminuiu área de trigo e optou pelo milho safrinha, nós não temos essa opção. E assim, temos este desafio”, destaca Gelson Lima, gerente da Área de Produção Vegetal da Cotrijal.

Viabilidade econômica

O presidente do Sindicato Rural de Passo Fundo, onde aconteceu à abertura do evento, João Batista Silveira, apontou que os problemas na cadeia tritícola foram levantados há bastante tempo e a metodologia que o governo Estadual vem implantando, visa encontrar as soluções. “Temos o conhecimento, a tecnologia e nos falta à viabilidade econômica. E são ações políticas que devem ser tomadas. Temos espaço para ampliarmos o cultivo do trigo, que é a base da agricultura do RS e também espaço internacional para conquistarmos”, diz.

 Novos mercados 

Para o presidente da Acergs (Associação das Empresas Cerealistas do RS), Gilberto Borgo, o problema histórico no Brasil é a possibilidade de buscar novos mercados para valorizar a produção gaúcha. “Somos o último Estado a colher e acabamos colocando o produto no mercado em um segundo momento, quando já está saturado. Também temos excedente de produção pelo que é consumido internamente e temos que exportá-lo, porém, isso nem sempre é viável em função das cotações internacionais do produto e da competitividade do nosso trigo com outros estados, pela incidência de ICMS. São entraves de mercado, logístico outro é o escoamento da produção através do Porto de Rio Grande”, comenta.

 Entre as soluções 

“A solução passa principalmente pela questão de qualidade e a semente traz na genética, a qualidade. A semente vai ajudar a trazer a finalidade para o que se deseja produzir. E na última safra, 94% das sementes de trigo cultivadas no Rio Grande do Sul eram certificadas, o que significa que o produtor acredita na semente oficial, além de que toda adequação de mercado começa pela qualidade”, defende o presidente da Apassul, Efraim Fischmann.

Fonte: Diário da Manhã

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