Publicado em: 02/10/2024 às 11:35hs
O Sindicato da Indústria do Trigo do Estado de São Paulo (Sindustrigo) promoveu, na última sexta-feira (27/9), o 9º Encontro da Cadeia Produtiva do Trigo de São Paulo. Realizado no Espaço Nobre da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em São Paulo, o evento, que também foi transmitido online, reuniu especialistas e profissionais do setor para discutir tendências, transformações e desafios enfrentados pela cadeia produtiva do cereal.
Durante a abertura, o presidente do Sindustrigo, João Carlos Veríssimo, abordou a problemática da "guerra fiscal" entre os estados produtores de trigo. Ele ressaltou que incentivos fiscais, como a redução do ICMS, têm conferido vantagens competitivas a estados como o Paraná, prejudicando a indústria paulista. Veríssimo enfatizou a necessidade de correção dessa desvantagem tributária para que os moinhos de São Paulo possam competir em condições equitativas.
O secretário Executivo de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Edson Alves Fernandes, também participou do encontro e comentou as questões tributárias. “O Paraná mói 2,5 milhões de toneladas de trigo anualmente, mas consome apenas 1 milhão de toneladas internamente, enquanto o restante é destinado ao estado de São Paulo, gerando uma competição desleal”, afirmou. Ele reiterou o compromisso do governo paulista em resolver essas disparidades, contando com o apoio do governador Tarcísio de Freitas e do secretário Guilherme Piae para atrair mais investimentos ao estado, visando a criação de empregos e o fortalecimento de São Paulo na produção e processamento de trigo.
Rubens Barbosa, presidente-executivo da Associação Brasileira do Trigo (Abitrigo), ressaltou que 2024 foi um ano desafiador para toda a cadeia do trigo, citando eventos como a tragédia no Rio Grande do Sul e problemas climáticos no Paraná, que resultaram em uma significativa redução na produção nacional e nas importações argentinas. Apesar das dificuldades, Barbosa projetou uma melhora para o próximo ano, com expectativa de uma safra maior em 2025, embora tenha notado a queda na produção em São Paulo. “O trabalho da Embrapa em pesquisar novas áreas de produção é crucial para o futuro da indústria”, concluiu.
O economista-chefe do Banco Itaú, Mário Mesquita, destacou, durante o painel "Cenário econômico brasileiro", a relevância de analisar o país no contexto macroeconômico, enfatizando que o Brasil não opera isoladamente. “O Brasil não é uma ilha. Enfrentamos uma inflação global pós-pandemia; embora esteja em queda, essa redução é desigual, com os preços das matérias-primas caindo mais rapidamente do que os serviços”, explicou.
Mesquita indicou que o PIB mundial deve crescer 3% em 2023, aumentando para 3,4% em 2024, o que representa uma recuperação, ainda que aquém da média do século XXI. Em relação ao PIB brasileiro, Mesquita projetou um crescimento entre 3% e 3,5%, superando as expectativas iniciais. Ele também destacou que os investimentos no Brasil alcançaram níveis historicamente altos e mencionou que o real tem acompanhado as oscilações globais, embora esteja se desvalorizando mais do que outras moedas de mercados emergentes. “O real pode se valorizar levemente até o fim de 2024”, acrescentou.
Mesquita finalizou seu discurso apresentando as projeções econômicas, prevendo um crescimento de 2% do PIB em 2024, com tendência de alta. “A taxa de desemprego deve continuar a cair, e a inflação tende a diminuir gradualmente”, resumiu.
O cenário internacional do trigo foi um dos principais tópicos abordados pelo economista Élcio Bento, responsável pelo Departamento de Análise do Mercado de Trigo. Ele destacou a possibilidade de uma boa colheita na Argentina, mas alertou sobre a incerteza climática que pode impactar essa previsão, além da falta de previsibilidade que eleva os preços do trigo argentino em relação ao norte-americano.
Bento descreveu um cenário desafiador para a produção de trigo no Brasil em 2024, especialmente no Paraná e no Rio Grande do Sul. “Duas geadas severas em agosto afetaram a produção no Paraná. Enquanto isso, o Rio Grande do Sul e Santa Catarina apresentam um bom desenvolvimento da safra, mas há previsão de chuvas intensas, que podem comprometer a produção”, explicou.
O economista também mencionou a queda nos estoques de trigo no Brasil e a crescente necessidade de importações para equilibrar a oferta interna. “No ano passado, os estoques caíram de 11,3 milhões para 8,5 milhões de toneladas, resultando em uma redução drástica de 1,9 milhão para 658 mil toneladas. Para a próxima temporada, espera-se um aumento significativo nas importações, dada a diminuição da produção interna”, detalhou, enfatizando a dependência dos estados brasileiros em relação às importações para atender à demanda de trigo e farinha.
Além das discussões sobre a cadeia produtiva, especialistas convidados enfatizaram a necessidade de um entendimento profundo do mercado consumidor para garantir a competitividade da indústria local. Durante o painel "Tendências globais de consumo e aplicabilidade no mercado brasileiro", Claudio Czarnobai, diretor de Vendas para Novos Negócios na América Latina da Nielsen/NielsenIQ, destacou o crescimento do canal de autoatendimento (cash & carry) no varejo, que proporciona uma experiência aprimorada ao consumidor por meio da modernização das lojas e da personalização das ofertas.
Czarnobai observou que a Geração Z está influenciando o comportamento de consumo, moldando as decisões de compra familiares e buscando informações detalhadas sobre produtos e preços. Embora ainda não tenha um grande poder de compra, essa geração será crucial no futuro. “Daqui a dez anos, será a principal responsável pelas decisões de compra”, sintetizou.
A coordenadora de Marketing da Prozyn Biosolutions, Julia Browne, ressaltou que os consumidores brasileiros estão se tornando cada vez mais conscientes, priorizando alimentos básicos em face das incertezas econômicas. Browne também apontou que a preocupação com sustentabilidade e saúde está moldando a demanda por produtos que ofereçam benefícios funcionais e sejam ambientalmente responsáveis.
Ela enfatizou a crescente personalização do consumo, exigindo que as empresas adaptem seus produtos para atender às necessidades específicas de diferentes nichos de mercado. “As tendências globais indicam um consumidor mais informado e exigente, que busca qualidade, preço justo e sustentabilidade nos produtos. Adaptar-se a essas mudanças é fundamental para que as marcas mantenham sua relevância e competitividade no mercado”, recomendou.
O presidente do Sindustrigo, João Carlos Veríssimo, reiterou a importância de compreender as tendências de consumo e as mudanças nos hábitos dos clientes. “É essencial que as indústrias se adaptem a essas novas demandas para acompanhar a evolução do mercado”, finalizou.
Fonte: Portal do Agronegócio
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