Aveia, Trigo e Cevada

Brasil pode reduzir em até 38% a pegada de carbono na produção de trigo, aponta estudo da Embrapa

Pesquisa pioneira revela práticas sustentáveis que podem minimizar significativamente as emissões de gases de efeito estufa na triticultura brasileira


Publicado em: 23/04/2025 às 09:30hs

Brasil pode reduzir em até 38% a pegada de carbono na produção de trigo, aponta estudo da Embrapa
Foto: Raoni Locatelli

Um estudo inovador realizado pela Embrapa revelou que a pegada de carbono da produção de trigo no Brasil é inferior à média mundial, apontando ainda possibilidades de redução de até 38% nas emissões de gases de efeito estufa. A pesquisa, publicada no Journal of Cleaner Production, é pioneira na América do Sul e tem como foco a produção de trigo nas lavouras e na indústria moageira do Sudeste do Paraná. Os resultados indicam que, por meio da adoção de tecnologias e práticas agrícolas sustentáveis, é possível diminuir o impacto ambiental dessa cultura no país.

A análise realizada incluiu a avaliação de 61 propriedades rurais na safra de 2023/2024, além de um acompanhamento detalhado do processo industrial de moagem em uma moageira paranaense. Os dados obtidos revelaram que o Brasil apresenta uma pegada de carbono de 0,50 kg de CO₂ equivalente (CO₂eq) por quilo de trigo produzido, um valor abaixo da média global de 0,59 kg.

Fertilizantes nitrogenados: principais responsáveis pela pegada de carbono

A pesquisa destacou que o uso de fertilizantes nitrogenados, especialmente a ureia, é o principal fator responsável pela pegada de carbono na produção de trigo. A aplicação desse fertilizante gera a emissão de óxido nitroso (N₂O), um gás de efeito estufa que representa 40% das emissões associadas à triticultura. Para reduzir esse impacto, o estudo sugere a substituição da ureia pelo nitrato de amônio com calcário (CAN), o que pode diminuir a emissão de carbono em até 4%. Além disso, o CAN ajuda a mitigar a acidificação do solo, outro problema ambiental relacionado ao uso da ureia.

Marília Folegatti, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente (SP), explica que a substituição da ureia pelo CAN não só reduz a emissão de carbono, mas também neutraliza os efeitos negativos da acidificação do solo. Ela ainda sugere o uso de alternativas como biofertilizantes, biopesticidas e fertilizantes de liberação lenta para reduzir a dependência de fertilizantes sintéticos.

Potencial de redução da pegada de carbono na produção de trigo

No cenário global, a pegada de carbono do trigo varia entre 0,35 e 0,62 kg de CO₂ por quilo de grão, dependendo das condições climáticas e das práticas agrícolas de cada região. O Brasil se destaca com um valor de 0,50 kg, mais baixo que o de países como China (0,55 kg), Itália (0,58 kg) e Índia (0,62 kg). Com a adoção das práticas sugeridas pelo estudo, a pegada de carbono da produção brasileira de trigo pode ser reduzida em até 38%, aproximando-se dos indicadores de países como Austrália e Alemanha, que possuem valores em torno de 0,35 kg.

Desafios e avanços na produção sustentável de trigo

A pesquisa também revelou que a produção de trigo no Brasil apresenta vantagens em algumas categorias ambientais. O cultivo de trigo de sequeiro, por exemplo, reduz significativamente o consumo de água, enquanto a maior incidência de luz solar no país permite o aproveitamento de energia fotovoltaica na indústria moageira.

Contudo, a pesquisa também alerta para os impactos da acidificação do solo e da toxicidade ecológica, causados pelo uso de fertilizantes e pesticidas. A adoção de cultivares mais produtivas e práticas agrícolas mais sustentáveis é fundamental para mitigar esses efeitos, além de contribuir para a conservação da biodiversidade e a saúde do solo.

Marcelo Vosnika, diretor da Moageira Irati, destaca que a produção de trigo com menor impacto ambiental é uma demanda crescente no mercado. "Estamos trabalhando para demonstrar ao mundo que nosso modelo de produção de trigo está alinhado com uma agricultura resiliente e de baixo carbono", afirma.

Metodologia e próximos passos

O estudo da Embrapa faz parte do projeto "Indicadores e Tecnologias ESG na Moagem de Trigo Paranaense", iniciado em 2023 em parceria com a Moageira Irati. A pesquisa utilizou a metodologia da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), que permite avaliar os impactos ambientais de todos os estágios do ciclo de vida do trigo, desde o cultivo até a produção da farinha.

Os resultados obtidos podem servir como base para futuras pesquisas em outras cadeias produtivas, como a de carnes e energia, e visam orientar a produção de alimentos de maneira mais sustentável, alinhando-se às exigências ambientais e às demandas do mercado por práticas agrícolas mais responsáveis.

Fonte: Portal do Agronegócio

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