Publicado em: 11/02/2025 às 16:30hs
A Itália, tradicionalmente conhecida por sua produção de trigo para macarrão, enfrenta uma crescente dificuldade em cultivar sua própria matéria-prima devido aos impactos das mudanças climáticas. A resposta para esse desafio pode estar em um esforço global para decifrar o DNA do trigo duro e desenvolver variedades mais resistentes ao calor e à seca.
Luigi Cattivelli, especialista em genômica do trigo, lembra que a história do trigo duro remonta a mais de 10 mil anos, quando agricultores neolíticos começaram a cultivar a espelta, uma gramínea selvagem. Ao longo das gerações, por meio de seleções e cruzamentos, os humanos aprimoraram a espelta para criar o trigo duro, essencial para a produção do macarrão, especialmente na Itália.
Cattivelli, atualmente diretor do Centro de Pesquisa Genômica em Fiorenzuola, Itália, destaca que o futuro da agricultura depende da capacidade de desenvolver variedades de trigo mais resistentes às condições climáticas extremas. Esse trabalho é realizado em parceria com cientistas de diversos países e utiliza tecnologias avançadas, como a computação em nuvem, para analisar os genomas de várias variedades de trigo duro.
No Projeto Pangenoma, os cientistas analisam os genomas de aproximadamente 40 variedades de trigo para identificar características que permitam a cultura prosperar em condições adversas, como secas e calor excessivo. Além disso, buscam por genes que tornem o trigo mais eficiente no uso de recursos naturais, como água e fertilizantes, além de aumentar sua resistência a doenças e pragas.
Para dar suporte a esse trabalho, foi criada uma infraestrutura de computação de alto desempenho na nuvem da Microsoft, que facilita o armazenamento e o processamento de enormes quantidades de dados genéticos. Curtis Pozniak, geneticista do Centro de Desenvolvimento de Culturas da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, explica que a computação em nuvem permite o compartilhamento de dados com uma vasta rede de especialistas ao redor do mundo, acelerando a descoberta de soluções.
A genômica, que combina biologia, bioinformática e tecnologia da informação, tem sido fundamental para entender o trigo de maneira mais detalhada. A análise genômica do trigo dura revela que essa planta possui um genoma muito complexo, com cerca de 10,5 bilhões de bases de DNA, mais do que o genoma humano. A pesquisa em andamento visa identificar genes que conferem resistência a estresses ambientais, como altas temperaturas e escassez de água.
Primetta Faccioli, responsável pela criação do sistema de nuvem Azure para análise genômica no CREA, observa que a colaboração entre cientistas de diversas partes do mundo é essencial para lidar com os desafios impostos pelas mudanças climáticas. A tecnologia em nuvem permite que os pesquisadores trabalhem juntos de forma mais eficaz, compartilhando dados em tempo real e acelerando o processo de descoberta de novas variedades de trigo.
Pesquisadores como Elisabetta Mazzucotelli, também do CREA, estão explorando o genoma do trigo para redescobrir características genéticas antigas que podem ser vitais para enfrentar as adversidades climáticas. A capacidade de comparar grandes volumes de dados genéticos, com o apoio de supercomputadores, está permitindo identificar diferenças sutis entre plantas, como uma resistência superior a doenças ou uma adaptação mais eficiente ao solo.
Ao contrário dos métodos tradicionais, que envolviam o envio de dados fisicamente por discos rígidos, a nuvem Azure oferece uma plataforma de computação de alto desempenho que torna possível o processamento simultâneo de grandes quantidades de informações. A infraestrutura criada permite aos cientistas realizar pesquisas de forma mais eficiente e alcançar resultados mais rápidos.
O trabalho realizado por esses cientistas não se limita apenas ao avanço da produção de trigo para macarrão, mas visa contribuir para o desenvolvimento de soluções agrícolas que possam garantir a segurança alimentar diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas. Assim, as descobertas que emergem desse esforço global poderão, em um futuro próximo, ser aplicadas no cultivo de trigo e outras culturas essenciais para a alimentação mundial.
Fonte: Portal do Agronegócio
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