Aveia, Trigo e Cevada

Trigo: quedas no final de 2008 anulam ganhos do início do período

Agentes do setor de trigo iniciaram 2008 apreensivos quanto ao abastecimento do mercado brasileiro


Publicado em: 21/01/2009 às 09:54hs

...

Agentes do setor de trigo iniciaram 2008 apreensivos quanto ao abastecimento do mercado brasileiro, diante da restrição dos embarques argentinos e dos estoques mundiais mais apertados. Nesse cenário, os preços internos e externos do cereal subiram fortemente, motivando aumento na área cultivada. Já no segundo semestre de 2008, as cotações recuaram para os níveis de 2006, anulando os ganhos obtidos em 2007 e no início de 2008. Houve necessidade de intervenção governamental, primeiro para favorecer as importações e, depois, para manter a renda de produtores. De modo geral, as negociações internas permaneceram em ritmo lento durante todo o ano de 2008.

A demanda brasileira por trigo estimada pela Conab foi de 10,3 milhões de toneladas no acumulado de 2008. Com a produção doméstica da safra 2007/08 (colhida no segundo semestre de 2007) em 3,8 milhões de toneladas, seria necessário importar 6,5 milhões de toneladas do cereal para suprir a procura. Até o final de janeiro, as compras brasileiras do produto da safra 2007/08 correspondiam a cerca de 3 milhões de toneladas, restando um grande volume (de 3,5 milhões de toneladas) a ser adquirido no correr do ano.

A produção de trigo da Argentina, principal fornecedora do Brasil, foi de 15,4 milhões de toneladas em 2007 e o consumo interno, de 5,5 milhões de toneladas. Até janeiro de 2008, descontando as 7 milhões de toneladas do produto já negociadas com o mercado externo, faltaria cerca de 2,9 milhões de toneladas sem contratos, segundo dados do governo argentino. Mesmo que o Brasil absorvesse todo esse volume, ainda seriam necessárias compras de outros países. Com isso, a demanda nacional teve de contar com trigo de fora do Mercosul, especialmente do Canadá e dos Estados Unidos.

Em fevereiro de 2008, o governo argentino liberou os registros de exportação de trigo, trazendo certo alívio ao mercado brasileiro. No mesmo período, o Brasil também diminuiu a Tarifa Externa Comum (TEC), paga por importadores brasileiros nas compras fora do Mercosul. Mesmo assim, continuavam as incertezas quanto aos custos de importação do trigo de países fora do Mercosul, que deveriam continuar altos, e à oferta, que poderia não ser suficiente.

Essa situação elevou os preços até abril. Além disso, mesmo com as exportações argentinas liberadas, o governo daquele país surpreendeu agentes brasileiros com novos adiamentos dos registros de exportação, no intuito de evitar aumentos de preços do trigo na Argentina.

Do lado produtor, a oferta respondeu a este cenário. Dados divulgados pela Conab em dezembro/08 apontaram produção nacional de 5,87 milhões de toneladas, volume 53,4% superior ao da safra anterior. Segundo a Companhia, apesar das adversidades climáticas nas principais regiões produtoras, Paraná e Rio Grande Sul, a média da produtividade não foi afetada, ficando em 2.722 quilos por hectare e 2.100 kg/ha, respectivamente.

Do lado dos consumidores, houve intervenção governamental. Na tentativa de conter as expressivas altas internas do trigo dos primeiros meses de 2008, a Camex (Câmara de Comércio Exterior) anunciou liberação da importação de mais 1 milhão de toneladas de trigo com isenção total de alíquota do Imposto de Importação para países de fora do Mercosul até 31 de agosto. Outra medida para importação do cereal foi a suspensão da cobrança adicional de frete para a renovação da marinha mercante. Além disso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou em meados de maio a suspensão do PIS/Cofins contido na venda de trigo, farinha e do pão francês até o final de 2008.

Como resultado, as compras brasileiras de trigo do Hemisfério Norte aumentaram em junho. Este fator aliado ao avanço da colheita de trigo no Hemisfério Norte e ao clima favorável ao desenvolvimento das lavouras no Brasil pressionaram as cotações do cereal. Outro fator baixista foi a previsão de aumento na produção nacional, divulgada pela Conab.

A perspectiva de que preços continuassem em queda inibiu o interesse de compradores de trigo em agosto. Também houve retorno das importações do cereal argentino, bem como o início da colheita da safra brasileira.

Além das quedas nos preços do cereal, a alta nos custos de produção para a atual temporada agravou a situação de produtores. Para equilibrar receitas e despesas operacionais, a produtividade deveria ser de 41/sc/ha; para cobrir o custo total, seriam necessárias cerca de 80 sacas/ha, produtividade jamais alcançada.

Nesse cenário, no final de agosto, o governo anunciou medidas de apoio à comercialização de trigo, trazendo alívio aos produtores. Foram anunciadas compras através programa de Aquisições do Governo Federal (AGF) e também contratos de opção de venda.

A partir de outubro, a valorização do dólar frente ao Real, o reinício das paralisações dos produtores na Argentina, o fim da isenção da TEC para a importação de trigo fora do Mercosul e a menor produção na Argentina sinalizaram aquecimento no interesse de compradores por negociações no Brasil. Por outro lado, a colheita nacional avançava, aumentando a disponibilidade interna do produto.

No Paraná, a qualidade do trigo foi satisfatória, exceto para as áreas mais ao sul. A preocupação foi maior para o produto do Rio Grande do Sul. O clima chuvoso acarretou em perda de produção e reduziu a qualidade do cereal de boa parte das lavouras, dificultando o uso principalmente na panificação. Além de problemas na industrialização, houve perdas expressivas aos produtores. A produtividade diminuiu, e o preço a ser recebido teve forte desvalorização.

Em 2008, a importação de trigo chegou a 6,03 milhões de toneladas (igual à produção interna), 9,12% inferior ao volume de 2007, de acordo com dados da Secex. Contudo, o desembolso nas compras externas de trigo superaram em 34,6% o de 2007, para US$ 1,9 bilhão. No caso da farinha de trigo, as compras em 2008 foram de 682,3 mil toneladas, crescimento de 9% em relação ao a 2007.

Fonte: Equipe Trigo/Cepea

◄ Leia outros artigos