Aquicultura e Pesca

“Brasil tem um mar de oportunidades”

Em entrevista, liderança do setor aponta que a produção de pescado é a grande promessa do PIB agropecuário


Publicado em: 04/09/2023 às 17:00hs

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Altemir Gregolin: Presidente do IFC Brasil e ex-Ministro da Pesca
Por: Marcos A. Bedin

Com base no sucesso das edições anteriores e na consolidação como um dos maiores eventos latino-americanos da área, o IFC Brasil - International Fish Congress & Fish Expo Brasil surpreende a cadeia novamente em 2023. A 5ª edição do evento contará com a participação de mais de 50 especialistas nacionais e internacionais, além de mais de 100 expositores na Fish Expo. O evento internacional será realizado de 19 a 21 de setembro, no Recanto Cataratas Thermas Resort & Convention, em Foz do Iguaçu (PR). A meta é alcançar três mil inscrições, superando o marco de 2.300 congressistas presenciais em 2022. A edição anterior da feira movimentou mais de R$ 100 milhões em negócios e impulsionou o turismo em Foz do Iguaçu, injetando aproximadamente R$ 6 milhões na região. 

Com o tema "Das águas à mesa do consumidor: por uma cadeia competitiva, sustentável e focada no mercado global", a 5ª edição do IFC Brasil será palco para aquicultores, profissionais, executivos, agentes públicos, acadêmicos e líderes de todas as áreas do setor, desde a produção primária de aquicultura e pesca até fornecedores de tecnologias, prestadores de serviços, indústria, logística e mercado consumidor.

Nesta entrevista, o presidente do IFC Brasil e ex-Ministro da Pesca, Altemir Gregolin, fala sobre as perspectivas para esta edição, o potencial do segmento de pescado no país e os desafios para o setor.

Pergunta: Hoje o IFC Brasil é o principal evento de aquicultura e pesca na América Latina e todo ano traz novidades para impulsionar o setor, a exemplo da Rodada Internacional de Negócios de Vendas de Pescado, organizada pela APEX Brasil. O que o mercado pode esperar da 5ª edição do IFC?

O IFC foi criado com o propósito de ser um instrumento de apoio ao desenvolvimento da cadeia de pescado do Brasil e tem feito isso com maestria, a tal ponto que o evento tem crescido ano após ano em público e número de expositores. Esperamos bater mais um recorde nesta edição.

O mercado pode esperar o que tem de mais atual em termos de informações, conhecimento e tecnologias, além de debates sobre o momento em que vive o setor, as tendências e os desafios. A Rodada Internacional de Negócios, organizada em parceria com a APEX Brasil, tem o objetivo de abrir novos mercados e estimular a produção.

Os temas do congresso foram demandados em extensa consulta a produtores, empresas, cooperativas e academia. O objetivo é promover o nivelamento de informações em todo o setor e buscar soluções para a melhoria da produção, produtividade e rentabilidade ao longo de toda a cadeia.

A feira apresentará grandes inovações tecnológicas lançadas no mercado. Entre elas, novidades relacionadas ao uso da inteligência artificial no processo produtivo.

Será um grande encontro de amigos e parceiros da mesma causa: produzir a proteína de origem animal mais saudável para alimentar os brasileiros e o mundo.

Pergunta: O setor é a grande promessa para engordar a fatia do PIB agropecuário. Com a expertise de ex-Ministro da Pesca, como avalia as oportunidades do Brasil, visto que o pescado é a proteína de origem animal mais consumida e comercializada no mundo?

Costumo dizer, parafraseando o título do meu livro, que o Brasil tem um mar de oportunidades na produção de pescado – é a mais nova e promissora fronteira de produção de alimentos na agropecuária brasileira. Se, por um lado, temos um mercado mundial crescente e um mercado interno com grande potencial, por outro, temos condições naturais invejáveis, como a maior reserva de água doce do mundo, uma extensa costa, produção de milho e soja para ração, espécies nobres e uma massa crítica na área técnica. Segundo a FAO, o Brasil pode produzir mais de 20 milhões de toneladas/ano. Soma-se a isso, o fato do Sudeste Asiático, responsável por 89% da produção aquícola mundial, estar reduzindo seu ritmo de crescimento por limitações na expansão geográfica, problemas ambientais, riscos sanitários e de matéria-prima para ração. Ou seja, com a demanda crescente, países como o Brasil terão muitas oportunidades e certamente seremos grandes produtores de pescado. Basta fazer o dever de casa.

Pergunta: O senhor acredita que o Brasil está competitivo e tem condições de liderar esse processo de fornecimento de pescado em âmbito mundial? Quais são os principais gargalos?

Temos dois mundos muito diferentes, um é o mundo da pesca e o outro da aquicultura. A aquicultura é onde temos o grande potencial produtivo e que se constitui no polo mais dinâmico da produção, porém, com realidades muito diferentes conforme as espécies: tilápia, peixes amazônicos, camarão, etc. A maricultura ainda é incipiente, mas a novidade é a produção de algas, que tem demonstrado ser muito produtiva e rentável.

A tilápia é a espécie mais competitiva, que tem pacote tecnológico mais desenvolvido, a cadeia mais organizada e com crescimento mais acelerado. Somos o quarto maior produtor mundial, atrás apenas da China, Indonésia e Egito. As exportações crescem e seu diferencial em qualidade vai sendo percebido no mercado internacional. Temos muito a avançar e ganhar competitividade na produção do tambaqui e camarão.

Os desafios para o desenvolvimento do setor são de ordem regulatória, tributária, de acesso ao crédito, de baixos investimentos em ciência e tecnologia, de dificuldades na modernização da indústria, entre outros.

Mas há um tema central e estratégico, que sem ele não haverá futuro para a atividade e nem o Brasil desenvolverá o grande potencial que tem: o modelo de desenvolvimento precisa ser sustentável em suas múltiplas dimensões – ambiental, social e econômico – e o produto deve ser certificado e rastreado. O consumidor exige e possui os mecanismos para aferição. Portanto, o futuro para o Brasil é muito promissor, porém, é preciso pensar grande, planejar com visão de longo prazo, elaborar e implementar as políticas corretas e cada qual, setor público e privado, fazer a sua parte. Mãos à obra.

Fonte: MB Comunicação Empresarial/Organizacional

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