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PIB no vermelho no 2º trimestre não é consenso, mas projeções para o ano pioram

Segundo índice do BC, a economia brasileira encolheu 0,99% no 2º trimestre. Números oficiais serão divulgados pelo IBGE em 31 de agosto. Parte do mercado já vê alta do PIB perto de 1% em 2018


Publicado em: 16/08/2018 às 11:30hs

PIB no vermelho no 2º trimestre não é consenso, mas projeções para o ano pioram

Apesar de ter conseguido recuperar em junho boa parte das perdas registradas em maio por conta da greve dos caminhoneiros, a economia brasileira patinou no segundo trimestre e após a divulgação de uma série de indicadores antecedentes aumentaram as apostas de que o país pode ter registrado a primeira queda trimestral, depois de 5 períodos seguidos no azul.

Os números oficiais do Produto Interno Bruto (PIB), que é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só serão conhecidos no dia 31 de agosto. Mas após a divulgação do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central nesta quarta-feira, diversos analistas reforçaram suas expectativas de retração da economia na comparação com os 3 primeiros meses do ano.

Algumas projeções ainda indicam PIB no azul no 2º trimestre, mas nestes casos a estimativa é de um resultado muito próximo do zero. E é consenso que o ritmo de recuperação da economia está mais lento do que se esperava no começo do ano, o que faz com que as previsões para o crescimento da economia no ano continuem sendo revisadas para baixo. Parte do mercado já vê um crescimento do PIB próximo de 1% em 2018.

O Ministério da Fazenda espera um resultado levemente positivo no segundo trimestre. Para o ano, a expectativa é de crescimento de 1,6%.

Em 2017, o PIB teve uma alta de 1%, após dois anos consecutivos de retração e, no primeiro trimestre deste ano, avançou 0,4% contra os três meses anteriores, sustentado principalmente pela agropecuária.

Segundo o índice do BC, a economia brasileira encolheu 0,99% no 2º trimestre – a maior queda desde o primeiro trimestre de 2016 (-1,51%).

O IBC-Br costuma ser chamado de "prévia do PIB", mas utiliza um cálculo um pouco diferente do usado no PIB e nem sempre mostra proximidade com os dados oficiais divulgados pelo IBGE. O índice do Banco Central é calculado a partir de outros indicadores econômicos setoriais, de agricultura, indústria, comércio e serviços – acrescido de impostos. Já o PIB é a soma dos bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia.

No 1º trimestre, o indicador do BC apontou uma retração de 0,13% na economia, enquanto o PIB oficial cresceu 0,4%, segundo o IBGE. Na revisão divulgada nesta quarta-feira (15) pelo Banco Central, o IBC-BR teve expansão de 0,2% nos três primeiros meses de 2018.

A economista Luana Pimentel, do Ibre/FGV, afirma que é preciso ter cautela na comparação entre IBC-Br e PIB, pois existem diferenças metodológicas que podem gerar divergências no curto prazo e no ajuste sazonal utilizado para comparar períodos diferentes de um ano.

"De modo geral, os indicadores da atividade econômica apresentaram recuperação em junho, após a greve dos caminhoneiros que representou um forte choque de oferta na economia. Essa recuperação exibida em junho somada a um mês de abril muito positivo para a atividade possibilitam esse crescimento positivo que esperamos para o PIB do 2º trimestre", diz a analista.

Já o economista Luiz Castelli, da GO Associados, passou a projetar queda de 0,1% no PIB do 2º trimestre, e de 1,4% para o ano.

Ainda que indicadores da indústria, serviços e comércio já tenham mostrado uma recuperação das perdas de maio, o desemprego elevado associado à baixa confiança de empresários e consumidores num ano marcado por incertezas por conta das às eleições presidenciais continua limitando o consumo e os investimentos, cenário que dificulta uma retomada mais firme da economia.

Entre as projeções mais pessimistas está a da Austin Rating, que estima uma queda de 0,62% no PIB do 2º trimestre e reduziu a estimativa para a alta do PIB em 2018 de 1,8% para 1,1%.

Previsões para 2018 reduzidas

Parte do mercado já projeta uma alta do PIB perto de 1% em 2018. No início do mês, o Bradesco revisou sua projeção de crescimento para economia de 1,5% para 1,1%.

Pesquisa Focus mais recente do Banco Central, que ouve cerca de uma centena de economistas todas as semanas, aponta que as expectativas para o crescimento da economia para este ano estão em 1,49%, metade do que era esperado alguns meses antes.

O próprio governo federal reduziu em julho sua previsão de crescimento do PIB neste ano de 2,5% para 1,6%. Até maio, estava em 2,97%. Após a greve dos caminhoneiros, as projeções passaram a cair para menos de 2%.

"Pela dinâmica apresentada pelos indicadores de abril e sem a interrupção causada pela paralização, a economia poderia ter crescido em ritmo bem mais expressivo", afirma Alessandra Ribeiro, da Tendências, que prevê alta de apenas 0,1% do PIB no 1º trimestre.

A paralisação da categoria gerou uma crise no abastecimento em todo o país e falta de diversos produtos, impactando tanto a produção da indústria e do agronegócio como também as vendas do comércio e a prestação de serviços. O Ministério da Fazenda estimou um efeito de R$ 15,9 bilhões na economia.

A paralisação veio em um momento em que já havia incertezas sobre a economia e a capacidade do governo de promover medidas para tentar reequilibrar as contas públicas. Com a greve, os índices de confiança, que já vinham apresentando sinais de recuo, pioraram ainda mais, afetando diretamente a intenção de novos investimentos. O Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), espécie de termômetro do nível dos investimentos no Brasil, registrou queda de 0,9% no segundo trimestre.

O economista Alex Agostini, da Austin Ratings, destaca, entretanto, que a greve dos caminhoneiros não é a única responsável pelo fraco desempenho da economia no 2º trimestre. Entre os fatores que frustraram as expectativas, ele cita o cenário internacional mais turbulento, com as taxas de juros nos EUA em trajetória de alta e a escalada da "guerra comercial" aberta com a postura mais protecionista do governo Donald Trump.

"A paralisação dos caminhoneiros, em maio, e a Copa do Mundo, em junho, acentuou esse processo de perda de confiança com efeito negativo sobre o ritmo de investimentos, que reduziu ainda mais com a turbulência política e seus reflexos no mercado de capitais, em particular sobre a dinâmica da taxa de câmbio e bolsa de valores", afirma Agostini.