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Lactalis avança no mercado lácteo no País

Com investimento de R$ 70 milhões em unidade de manteiga e leite no Rio Grande do Sul, empresa francesa espera elevar sua participação nos dois negócios


Publicado em: 06/03/2018 às 08:00hs

Lactalis avança no mercado lácteo no País

Nem a batalha judicial que vem enfrentando pela aquisição da Itambé nem o momento delicado para a produção de leite no País tiram o ânimo da francesa Lactalis, que inaugurou ontem duas novas linhas de produção na unidade de Teutônia, na região central do Rio Grande do Sul.

O investimento de R$ 70 milhões permitirá a produção da manteiga Président no Brasil e também o envase de leite Elegê e Parmalat em garrafas do tipo PET.

A unidade de Teutônia será responsável por 82% de todo o volume produzido de manteiga pela empresa francesa no Brasil, com uma capacidade de 500 toneladas por mês. Já a de produção de leite envasado em garrafa PET é de 900 milhões de litros por ano.

A companhia também está investindo R$ 30 milhões em outras unidades do Estado. “Investimos com objetivo de aumentar o market share e diferenciar a marca. Acho que trazer outros produtos elaborados da Europa para produção no Brasil – como está sendo feito com a manteiga Président – é um caminho natural e uma forma de dinamizar o mercado”, afirma o CEO da Lactalis Brasil, André Salles.

Durante a inauguração, o CEO para a América Latina da Lactalis, Patrick Sauvageot, afirmou que a empresa não conta com a possibilidade da aquisição da Itambé não ser concluída. Embora tenha sido aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o negócio depende de decisão do Tribunal Federal de São Paulo sobre os recursos apresentados pela Vigor e pela Itambé. “O negócio para nós está fechado. Não vemos a possibilidade de que não se concretize. Nenhum dos argumentos da Vigor é sólido nem tem base jurídica. Acontece que no Brasil as coisas ocorrem com base em liminares”, criticou o executivo.

A Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR) vendeu a totalidade da Itambé para a Lactalis em 5 de dezembro do último ano por um valor estimado de R$ 1,9 bilhão. A cooperativa possuía 50% da Itambé e comprou os outros 50% que pertenciam a Vigor por R$ 600 milhões um dia antes, após a empresa controlada pela holding J&F, dos irmãos Batista, ser vendida para a mexicana Lala. A Vigor contesta a validade da recompra de parte da empresa e posterior venda da Itambé, enquanto esta última quer que a Lactalis possa exercer seu direito de acionista.

Com a aquisição concluída, a Lactalis ultrapassaria a Nestlé e chegaria à liderança no setor no Brasil com 2,7 bilhões de litros captados por ano, sendo 1,62 bilhão de litros da Lactalis e 1,1 bilhão da Itambé, o equivalente a 8% da captação brasileira de leite, que em 2017 foi de 34 bilhões de litros. Com a aquisição da Itambé, a Lactalis faturaria em torno de R$ 6 bilhões, estima o CEO.

“O interesse estratégico na aquisição da Itambé é evidente, pois a Lactalis é uma empresa muito forte no Sul do País e a Itambé é uma empresa muito forte em Minas Gerais e no Noroeste, então há uma complementariedade geográfica. A Itambé é muito forte em leite em pó, então há uma complementariedade de produtos”, disse Sauvageot.

Para o CEO, a situação da Itambé diante dessa indefinição é insustentável. “Em meio a muita bagunça e incerteza, os bancos não liberam dinheiro. Então há uma empresa que não tem caixa e crédito no banco. Isso não nos parece razoável, nem uma situação que possa durar.”

Ele negou que a Lactalis tenha ajudado a CCPR na aquisição de parte da Itambé para revender à empresa francesa e também negou que a Lactalis tenha infringido o acordo de confidencialidade assinado no momento em que manifestou interesse na aquisição da Vigor, quando ela ainda pertencia à J&F. “Essa briga judicial tem um motivo só: queimar a empresa. Por isso vamos deixar os juízes decidirem.”

Momento delicado

A Lactalis amplia a produção no Brasil em um momento delicado para o setor de leite no País. Ontem, produtores gaúchos protestaram na porta da fábrica da empresa contra os baixos preços, de cerca de R$ 0,89 por litro, abaixo do custo de produção. Ainda assim, Salles espera que a captação local deva crescer na casa de 2% neste ano. “A gente acredita que 2018 será de crescimento e de recuperação. A economia vai se recuperar e o setor deve pegar carona.” /A repórter viajou a convite da Lactalis.