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ESTUDO: Perdas de energia custam mais de R$ 8 bi aos consumidores em 2016

Os consumidores de energia arcaram com mais de R$ 8 bilhões em energia que foi injetada na rede e não chegou a ser consumida em 2016, devido às perdas totais apuradas pelas distribuidoras por questões como inadimplência, má gestão de recursos e roubos de energia


Publicado em: 08/12/2017 às 19:20hs

ESTUDO: Perdas de energia custam mais de R$ 8 bi aos consumidores em 2016

Estudo - O número consta em um estudo feito pela consultoria americana A.T. Kearney, obtido com exclusividade pelo Valor, que considerou os resultados de 2016 de 26 concessionárias de distribuição de energia que representam 70% do mercado total.

Furtos ou fraude - As perdas de energia por furtos ou fraude - os conhecidos "gatos" – custaram aos consumidores de energia cerca de 5,1% de toda a energia injetada na rede ano passado, o que representou o total R$ 3,6 bilhões, ou R$ 53 por consumidor no ano.

Perdas totais - Considerando também as perdas totais de energia, que incluem perdas técnicas (relacionadas à questões como problemas em transformadores e outros fatores de eficiência), o valor fica ainda maior, chegando a 12,5% de toda a energia injetada na rede, somando R$ 8,7 bilhões, ou R$ 128 por cliente.

Abaixo das metas - Ainda que a energia não chegue, de fato, aos consumidores, as perdas são remuneradas pela tarifa quando ficam abaixo das metas regulatórias estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), baseadas em critérios de eficiência das companhias de distribuição de energia.

Maior que o previsto - Segundo o estudo, a maioria das empresas enfrenta perdas reais maiores que as previstas. Nesses casos, as perdas são absorvidas pelas próprias companhias, e não são remuneradas pela tarifa. Como há concessionárias com perdas abaixo das metas regultórias, o resultado médio a ser absorvido pelas distribuidoras é minimizado. Em 2016, somou R$ 277 milhões. Ou seja, os outros cerca de R$ 8,4 bilhões foram pagos pelos consumidores.

Inadimplência - A inadimplência foi outro fator que pressionou as distribuidoras no ano passado, segundo a consultoria. O estudo aponta que a maior parte das distribuidoras teve um custo com provisões para crédito de liquidação duvidosa (PCLD) bem maior que o estabelecido - e remunerado - na tarifa, devido à situação econômica do país.

Soma - As somas dos valores apurados a mais que as metas regulatórias das distribuidoras somou R$ 1,4 bilhão em 2016, o que afetou significativamente o resultado da maioria das concessionárias, segundo a A.T. Kearney. Esses valores são considerados "receitas irrecuperáveis" pelas companhias.

Efeitos positivos - Segundo Cláudio Gonçalves, sócio da A.T. Kearney responsável pelo estudo, no caso dos clientes inadimplentes mas que regularizam as contas dentro de 30 dias, os efeitos para as distribuidoras são, na verdade, positivos, porque eles pagam multas e juros. No entanto, o efeito geral da inadimplência é negativo para as distribuidoras de energia.

Melhora - Ao longo de 2017, as distribuidoras tiveram melhora, mas, de modo geral, a perspectiva é que 2018 ainda será "um ano difícil" em termos de inadimplência, disse Gonçalves. Ele destacou que as companhias estão adotando diversas medidas para combater o problema, como desenvolvimento de modelos para aprimorar os cortes e uso de tecnologia e análise de dados nisso.

Crítico - "O tema da inadimplência ainda será crítico por mais um ou dois anos. Precisamos ver como a economia se comporta para avaliar como vai se desenvolver", disse Gonçalves ao Valor.

Sobrecontratação - Como resultado desses desafios e também da sobrecontratação, as distribuidoras tiveram seus resultados pressionados no ano passado. O estudo aponta que o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida) das companhias ficou 24% abaixo do regulatório ano passado, enquanto o lucro líquido ficou 84% menor.

Endividamento - Ainda que a maior parte desses montantes possa ser recuperado pelas distribuidoras nos próximos reajustes tarifários, de acordo com Gonçalves, o lucro muito abaixo do regulatório mostra que as companhias estão muito endividadas, e tendo sua liquidez penalizada. Em vez de registrar o faturamento no momento em que têm a despesa, as companhias sofrem com o descasamento de caixa e só vão apurar essa receita no ano seguinte, no momento da próxima revisão tarifária.

Diagnóstico - O estudo traz ainda um diagnóstico sobre os investimentos no segmento de distribuição, que ficam muito voltados para o curto prazo, sem correlação específica com o futuro dessas empresas. "Quem não investir hoje, vai perder a concessão. Há muitas oportunidades para melhorar e priorizar os investimentos, usando modelos preditivos", disse Gonçalves. Segundo o especialista, as companhias precisam trabalhar melhor as despesas operacionais e trabalhar os investimentos a fim de obter melhorias no médio e longo prazo.

Futuro - "O tema de investimentos é o futuro. Ao olhar para frente e priorizar, haverá melhora da qualidade do serviço. É preciso também fazer um trabalho interno, com mais aplicações da tecnologia, despacho em 'real time' das equipes de manutenção e uso de analytics", afirmou o sócio da A.T. Kearney.

Fonte: Portal Paraná Cooperativo

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