Clima

El Niño impõe cautela ao início da safra de soja

Até o início do verão, período que coincide com o fim do plantio da primeira safra 2015/16, meteorologistas estimam que um El Niño de intensidade moderada a forte deve influenciar o clima do Brasil


Publicado em: 05/10/2015 às 20:00hs

El Niño impõe cautela ao início da safra de soja

Os efeitos são diversos, mas a soja do Mato Grosso já tem os trabalhos atrasados e no Sul cresce a preocupação com a praga ferrugem asiática.

"Chove bem em uma área mas em outra não. Isso faz com que o produtor tenha que plantar em doses homeopáticas", explica oagrometeorologista da Somar Meteorologia, Marco Antonio dos Santos, sobre o cenário traçado para as lavouras de São Paulo, Minas Gerais, norte do Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso e Matopiba (região formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia).

O vice-presidente da Associação de Produtores de Soja e Milho do Estado do Mato Grosso (Aprosoja) para a região leste, Endrigo Dalcin, conta que osagricultores se preparam para dar a largada no plantio no dia 15 de setembro, data final do vazio sanitário, mas neste ano as chuvas não vieram conforme o esperado. "Tivemos um atraso de pelo menos 13 dias no início da semeadura, o que pode afetar a produtividade da safrinha de algodão", afirma.

"Quem têm pivôs , começou o plantio. Porém, devido à pouca quantidade de chuva, os produtores não estão começando ou, quem começa, começa de forma cautelosa. De forma geral, nossa região que por tradição planta cedo, está atrasada", acrescentou o vice-presidente da Aprosoja na região norte, Silvésio de Oliveira. Segundo ele, ali poderá haver prejuízo à janela de plantio da segunda safra de milho.

Pela primeira vez o Instituto Nacional de Defesa Agropecuária em Mato Grosso (Indea) definiu um prazo limite para o plantio de soja, fixado em 31 de dezembro. A colheita também foi delimitada para até cinco de maio de cada ano. Dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária(Imea), divulgados nesta semana, indicam que foram semeados apenas 50,6 mil hectares, o que representa 0,55% da área total do principal estado produtor da oleaginosa.

Se para o Centro-Oeste risco é falta de chuvas, no Sul a preocupação está no excesso delas. O especialista da Somar lembra que os maiores volumes de água ficarão concentrados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e sul do Mato Grosso do Sul. "El Niño deixa a possibilidade de perdas com ferrugem em todo o Brasil, mas nestas lavouras a pressão é maior", enfatiza Santos. Trata-se de uma preocupação a mais para o produtor.

Mercado

No último mês, as cotações da soja no mercado internacional baixaram ao menor nível em seis anos e meio. Por conta de expectativas extremamente positivas para a safra norte-americana e, em consequência, alta dos estoques, os preços chegaram a US$ 8,60 por bushel. A analista de mercado da consultoria INTL FCStone, Natália Orlovicin, diz que a colheita dos Estados Unidos deve se intensificar em outubro, trazendo mais clareza para os indicadores. Ontem, a soja fechou a US$ 8,67.

Especialistas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) destacam que as cotações em reais operam entre 25% e 30% acima do registrado em setembro de 2014. Se os custos não tivessem subido tanto, o cenário seria mais otimista. "Produtores que adquiriram os insumos mais recentemente claramente terão custos superiores, entre 25% e 30% maiores que os da safra 2014/15", dizem em nota.