Bovinos Leite

Produção de leite e desempenho dos terneiros de vacas de corte de diferentes grupos genéticos


Publicado em: 01/10/2010 às 10:35hs

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A produção de leite das vacas de corte é importante na produção de carne bovina porque há correlação positiva entre esta característica e o peso ao desmame do bezerro (Restle et al., 2005). Dentre os fatores que influenciam a produção de leite em vacas de corte, destaca-se o efeito genético da raça (Cruz et al., 1997; Restle et al., 2005).

Os objetivos deste trabalho foram avaliar a produção média diária de leite (PML) de vacas de corte puras, bi-mestiças e quadri-mestiças assim como o ganho de peso médio diário do nascimento à desmama (GMD) dos terneiros dessas vacas.

Material e Métodos

Foram utilizadas 81 observações de GMD e de PML registradas aos 14º, 28º, 56º, 84º, 112º, 140º, 168º e 196º dias de lactação nos anos de 2004 (45 observações) e 2005 (36 observações) de vacas de corte puras CH, CA, de bi-mestiças recíprocas oriundas de um esquema alternado de cruzamentos entre CH e CA e de quadri-mestiças (Purunã) oriundas de acasalamentos entre bi-mestiços CH x CA e CA x CH com bi-mestiços AN x CN e CN x AN.

As parições ocorreram durante os meses de julho a agosto. Durante o período experimental as vacas e seus terneiros foram mantidos em pastagens de Hemarthria altíssima.

Para a determinação da produção de leite, as vacas foram separadas dos terneiros pela manhã (do dia anterior ao da ordenha) e soltas em um piquete próximo ao centro de manejo. Às 18 horas as vacas eram recolhidas novamente ao centro de manejo, onde permaneceram com os terneiros durante um período onde era registrado o tempo de mamada de cada terneiro até esgotar o úbere.

Após mamarem, os terneiros eram separados novamente das vacas, permanecendo no centro de manejo e as vacas soltas em piquete próximo ao centro de manejo contendo pasto e água. No dia seguinte, às 6 horas da manhã era iniciada a ordenha, com a contenção da vaca, e em seguida eram aplicados 3 ml de ocitocina (placentex) via intramuscular, objetivando facilitar a liberação do leite.

A ordenha era feita apenas nos dois tetos do lado direito. A produção obtida era multiplicada por dois, para se ter a produção do úbere, sendo também corrigida para 24 horas, levando-se em conta o tempo entre a ultima mamada e a hora da ordenha. Nas datas das ordenhas eram pesadas as vacas, os terneiros e avaliada a composição corporal das vacas em escala de pontos de 1 a 5.

Os dados de GMD, em kg, e da PML durante os 196 dias de lactação, em mL, foram analisados estatisticamente pela metodologia dos quadrados mínimos ajustando-se um modelo linear que incluiu os efeitos fixos de ano de início da lactação, grupo genético da vaca (GGV), grupo genético do terneiro aninhado dentro do grupo genético da vaca (GGB(GGV)), além dos efeitos linear e quadrático da idade vaca ao parto (em classes de 2 a 11 anos) e do efeito linear da média dos escores corporais da vaca durante a lactação (em classes de 1 a 5). Foram computados contrastes entre médias de grupos genéticos para estimar os efeitos da diferença genética aditiva entre as raças CH e CA, da heterose do F1 (média dos F1 recíprocos (1/2 CH + 1/2 CA e 1/2 CA + 1/2 CH) contra a média das raças paternas (CH e CA), da heterose retida nas gerações avançadas do cruzamento alternado entre CH e CA (médias 3/4 CH + ¼ CA, 3/4 CA + 1/4 CH, 5/8 CH + 3/8 CA, 5/8 CA + 3/8 CH, etc) contra a contra a média das raças paternas (CH e CA) e da perda de heterose na população Purunã [média dos grupos Purunã, sendo Purunã 1 (1/2 AN + 1/2 CN) x (1/2 CH + 1/2 CA), Purunã 2 (1/2 CN + 1/2 AN) x (1/2 CA + 1/2 CH), Purunã 3 (1/2 CA + 1/2 CH) x (1/2 CN + 1/2 AN) e Purunã 4 (1/2 CH + 1/2 CA) x (1/2 AN + 1/2 CN)] contra a média das raças paternas (CH e CA).

Resultados e Discussão

As análises de variância geraram coeficientes de determinação (r2) de 0,53 e 0,47, respectivamente para o GMD e para a PML, indicando que o modelo proposto descreveu razoavelmente bem as variâncias dessas características. O efeito do GGB(GGV) não influenciou (P>0,05) o GMD nem a PML. O GGV teve forte influência sobre o GMD (P<0,01) bem como sobre a PML (P<0,05). Os efeitos linear e quadrático da IVP sobre o GMD foram, respectivamente, 0,052 ± 0,026 kg (P<0,05) e -0,0038 ± 0,0018 kg (P<0,05).Os efeitos linear e quadrático da idade da vaca (em anos) sobre a PML foram, respectivamente, 491 ± 242 mL (P<0,05) e – 35 ± 17 mL (P<0,05). O aumento de um ponto na média do escore corporal da vaca aumentou o GMD em 102 ± 42 kg (P<0,05) e a PML em 1.191 ± 394 mL (P<0,05).

As médias por quadrados mínimos para o GMD e para a PML segundo o grupo genético da vaca são apresentadas na Tabela 1 e as estimativas dos contrastes entre médias de grupos genéticos de vacas na Tabela 2. O GMD variou de 0,621 ± 0,024 kg para o grupo CH a 0,867 ± 0,024 kg para o grupo 5/8 CA + 3/8 CH. Os valores do GMD apresentados na Tabela 1 são superiores aos reportados por Perotto et al. (1998) para os grupos CH, CA e cruzamentos recíprocos avaliados numa fase anterior deste projeto Essa superioridade reflete melhorias no manejo de alimentação das vacas durante a lactação bem como no nível genético dos touros CH e CA usados como pais.

As produções diárias de leite variaram de 3.623 mL para as vacas Purunã 2 [(1/2 CN + 1/2 AN) x (1/2 CA + 1/2 CH)] a 6.740 mL para as vacas 5/8 CA + 3/8 CH. Cruz et al. (1997) reportaram média diária de produção de leite de 5,37 L para vacas Canchim mantidas em pastagens tropicais da segunda à 34ª semana de lactação. Restle et al. (2005) trabalhando com vacas Charolês, Nelore e F1 recíprocas em diferentes sistemas de alimentação (pastagem nativa e pastagem nativa mais pastagem cultivada) relataram médias de produção diárias de leite de 3,98 L para o grupo Charolês no período de 14 a 90 dias de lactação. Portanto, os valores aqui encontrados estão dentro da amplitude de variação dos encontrados na literatura para grupos genéticos e condições de manejo similares às deste trabalho.

Os contrastes da Tabela 2 indicam que a diferença CA - CH e a heterose do F1 foram significativas para o GMD. Estes resultados compatíveis com os de Perotto et al. (1998). Por outro lado, para a PML, somente a diferença CA -CH foi significativa (P<0,01). Ao contrário do que foi encontrado por Restle et al. (2005) para os cruzamentos entre Charolês e Nelore, neste trabalho não houve efeito significativo da heterose para PML. Da mesma forma, não foram significativas (P>0,05) as perdas de heterose nas gerações avançadas do cruzamento alternado CH x CA nem nas populações Purunã.

Conclusões

Vacas da raça Caracu produzem mais leite que vacas Charolês.

Bezerros amamentados por vacas Caracu apresentam melhor ganho de peso médio diário até a desmama que bezerros amamentados por vacas Charolês.

Existe heterose individual para o ganho de peso médio diário dos bezerros do nascimento à desmama.

Não há efeito de heterose nem há de perda de heterose para produção diária de leite em vacas cruzadas Charolês x Caracu tão pouco em vacas Purunã.

ATENÇÃO: Para ler este artigo com as tabelas citadas, clique aqui.

Daniel Perotto, Trabalho executado pelo IAPAR com recursos do Tesouro do Estado do Paraná

José Luiz Moletta, Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR. e-mail: dperotto@iapar.br

Orlando Carneiro Filho, Zootecnista. e-mail: orlando.filho@grupomaggi.com.br