Governo

Extensão rural e a alta dos alimentos

O aumento no preço dos alimentos no mundo tem preocupado organismos internacionais e o próprio Governo


Publicado em: 17/06/2008 às 10:40hs

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Não há como fugir ou negar. A realidade é que hoje há um aumento no preço dos alimentos no mundo, o que tem preocupado organismos internacionais e o próprio Governo. Recentes declarações de autoridades brasileiras, entre elas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, não deixam dúvidas ao rebaterem criticas internacionais contra os biocombustíveis. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, também admitiu recentemente que o cenário é mesmo de inflação, nos próximos dez anos.

Entretanto, grande parte da produção de alimentos que consumimos no Brasil vem da agricultura familiar, e este, portanto, é um momento de grandes oportunidades para esse segmento da economia brasileira. O produtor rural de pequena propriedade, beneficiário principal da extensão rural, tem, com essa crise dos alimentos, uma enorme chance de produzir mais, alcançar mais renda e assim conquistar de forma sustentável, qualidade de vida. Agora é o momento de o Brasil se consolidar como a principal potência mundial na produção de alimentos. E a agricultura familiar, com a parceria da extensão rural pública, poderá ser o agente dessa nova fase.
 
Na Emater-MG atualmente trabalhamos várias linhas de ações. A principal delas tem foco na superação da fome. O Programa Minas Sem Fome é exemplo dessa preocupação com o desenvolvimento sustentável. Em vez de dar a cesta básica, o Governo de Minas oferece a moradores do campo e das cidades a oportunidade de produzir seu próprio alimento, com a distribuição de sementes, adubos e insumos, juntamente com capacitação e assistência técnica. Além de garantir segurança alimentar, o grande mérito do programa é a possibilidade de aumentar o rendimento de muitas famílias, que podem vender o excedente da produção.
 
Esse mesmo Minas Sem Fome, que já beneficia cerca de 600 mil famílias no Estado, está avançando em suas metas este ano, com o incentivo às agroindústrias comunitárias e à melhoria da qualidade de leite, além da implantação de abastecimento de água – um insumo vital para a agropecuária – em comunidades rurais do Norte e Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
 
Em nível nacional, a Asbraer vem estimulando o debate com Estados, organizações dos agricultores e demais segmentos da sociedade, sobre o papel determinante da extensão rural, nesse momento desafiador. E, para as ações necessárias, contamos com o suporte dos escritórios das associadas estaduais em 4.596 municípios em todo o país.
 
Sobre as críticas internacionais da produção de biocombustíveis a partir de produtos agrícolas, não posso deixar de fazer algumas considerações. No Brasil, essa discussão não faz nenhum sentido. Enquanto os Estados Unidos produzem etanol a partir do milho, que é utilizado largamente na produção de alimentos, no Brasil só temos 0,98% da área de produção de grãos ocupada pela cultura da cana-de-açúcar destinada ao etanol.
 
Entretanto, é preciso deixar claro que é justo discutir os critérios da produção dos biocombustíveis para que não haja redução da produção dos alimentos. E isso a extensão rural está fazendo. Em Minas por exemplo, encaramos a produção de biodiesel no Norte do Estado como mais uma atividade dos produtores e temos estimulado a cultura consorciada de oleaginosas com o milho, feijão e amendoim. Em momento algum vamos orientá-los para optarem pela monocultura, por ser danosa, tanto do ponto de vista ambiental, pois esgota o solo e reduz a biodiversidade, quanto do econômico, visto que basta uma oscilação no mercado para comprometer toda uma cadeia produtiva. E tem ainda o aspecto social. A monocultura, se extensiva, pode afugentar a mão-de-obra no campo e levar as populações rurais a buscarem abrigo nas cidades. E sabemos o custo social disso.
 
José Silva Soares, 45 anos, é presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) e da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer). Engenheiro Agrônomo, com MBA CEO Internacional pela Fundação Getúlio Vargas e especializações em Piscicultura, Solos e Meio Ambiente. É gerente estadual do Programa Minas Sem Fome, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social de Minas Gerais e do Conselho Estadual de Política Agrícola.

Fonte: Emater-MG Viçosa

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