Caprinos e Ovinos

Estudo da Biodiversidade na Região Semiárida Raça Moxotó


Publicado em: 15/12/2010 às 19:50hs

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A região semiárida do Nordeste do Brasil é caracterizada por apresentar clima quente e seco na época seca do ano, com comprometimento da quantidade e da qualidade das pastagens, e clima quente e úmido no período chuvoso, afetando o mecanismo de sudação dos animais, devido à alta umidade do ar. Portanto, trata-se de uma região de clima extremo. Para habitar áreas como essas, existem raças de caprinos adaptadas ao meio ambiente, e que, ao longo do processo de seleção natural, diminuíram a produtividade em função da necessidade de sobrevivência.

São animais rústicos, resistentes, prolíficos, mas não especializados do ponto de vista produtivo. Vivem soltos na caatinga, em sistema de criação extensiva, e não recebem suplementação alimentar ou mesmo sal mineral. Comem o que encontram pela frente. Como exemplo dessas raças, há a Moxotó, uma das raças naturalizadas mais importantes que habita o semiárido, tendo sido descrita como sendo originária do Vale do Moxotó, região semiárida de Pernambuco. Apresentam pequeno porte, precocidade reprodutiva, boa prolificidade, alta libido e resistência às condições climáticas severas e às doenças.

É um animal esperto e arisco que percorre a caatinga com soberba, como quem sabe onde está pisando, dando um colorido todo especial à paisagem. Apesar de ser uma raça importante para o homem do semiárido, em vista de sua pouca exigência e boa produtividade  nas condições do Nordeste, servindo como fonte de renda para o homem do campo, estudos sobre a biologia molecular dessa raça ainda não têm sido realizados. Portanto, visando caracterizar esta raça do ponto de vista molecular e identificar seu potencial biotecnológico, está sendo realizado um projeto financiado pela FINEP, em conjunto com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)/Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA), Embrapa Caprinos e Ovinos, Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e Universidade Federal do Ceará (UFC). Trata-se de um projeto pioneiro que pretende estudar a genômica funcional e a proteômica da raça, identificando genes de interesse e marcadores moleculares para características produtivas, reprodutivas e de resistência. É importante saber como os genes adaptados se manifestam através das proteínas e, dessa forma, investigar o potencial biotecnológico delas na produção animal.

Este trabalho também contribuirá para uma maior pressão na seleção desses animais, de modo a se ter rebanhos mais especializados para determinada característica. Aliado aos estudos que dedicam seus esforços à conservação da raça Moxotó, este projeto, através da caracterização molecular e da prospecção biotecnológica de genes e proteínas da raça, contribuirá para o desenvolvimento sócioeconômico sustentável da caprinocultura no Nordeste. Vale salientar que genótipos não mais aparecem ou se criam, e sim desaparecem. Portanto, estudar os genes da raça nativa Moxotó poderá nos fornecer importante conhecimento sobre como esta raça evoluiu ao longo do tempo e se adaptou aos poucos às condições do semiárido, além de proporcionar condições de utilizar estes genes e proteínas expressas por eles na produção de animais especializados.

Angela Eloy - Pesquisadora da Embrapa Caprinos e Ovinos na área de Biotecnologia da Reprodução

Fonte: Embrapa Caprinos e Ovinos

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