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Eleições e agricultura


Publicado em: 01/10/2014 às 00:00hs

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Uma eleição com possibilidade de mudança sempre traz esperança. Trata-se de uma chance de trocar pessoas, pensamentos, objetivos, enfim, chance de mudanças de políticas públicas. A agricultura brasileira, que há muito tempo vem sendo a âncora da economia do país, precisa disso com urgência.

Nossa agricultura cresceu embalada por novas tecnologias, por novos investimentos e, por muitas vezes, por preços internacionais atrativos. Mas novos tempos se aproximam. Há pouco foi divulgado que os preços internacionais de commodities agrícolas deverão cair nos dois próximos anos, e isso já é visto, na prática, com a cotação do milho, por exemplo. Até agora, crises de preços baixos foram vencidas com aumentos na produtividade, mas essa estratégia tende a não funcionar mais. Como nossa produtividade já é bastante alta e está cada vez mais próxima do que o ambiente permite, não devemos esperar mais crescimento significativo.

Grosseiramente, podemos dividir os produtores rurais em três “tamanhos”: os pequenos (enquadrados normalmente como agricultores familiares), os médios e os grandes. Os pequenos vêm sendo assistidos, e muitas vezes subsidiados, por programas governamentais especiais dirigidos principalmente à agricultura familiar. Os grandes, por terem capacidade econômica e gerencial somadas à escala de produção, têm conseguido produzir a custos muito competitivos. Eles enfrentam sim muitos problemas, mas como tratam-se de grandes empresas, possuem recursos para enfrentá-los.

Mas, e os médios produtores? Essa parcela de agricultores é responsável por uma significativa parte da produção nacional. São pessoas que compram nas revendas das esquinas das lojas da cidade e contratam os profissionais de suas cidades no interior. Cenário muito diferente das grandes empresas agrícolas. Por causa dessa escala de produção, o produto do médio agricultor é mais caro e, consequentemente, sua competitividade no mercado é menor. E é exatamente por isso que a agricultura de médio porte vem diminuindo de tamanho no Brasil. Em algumas regiões as cooperativas desenvolvem um papel importantíssimo na manutenção desses agricultores, que não contam com programas de políticas públicas.

Por outro lado, podemos notar um aumento significativo no número de grandes grupos atuando na agricultura brasileira, inclusive de empresas de capital aberto, o que tem gerado competitividade. Enquanto os preços internacionais estiverem altos há esperança para os médios agricultores, mas isso deve mudar. Então, o que será daqueles, por um cenário desfavorável, têm deixado a atividade? Se tivermos de um lado grandes e eficientes empresas agrícolas e de outro o agricultor familiar, qual será a consequência para a economia da maioria dos municípios brasileiros que são diretamente impactados pela atuação de médios produtores?

Eleição é tempo de discussão de ideias e de mudar políticas.

Por Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).

Fonte: Monsanto em Campo

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