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CEAGESP: Uma rede de abastecimento e sua importância no agronegócio

No passado, a comercialização de produtos que estão voltados à produção agropecuária, sendo ela produção vegetal ou animal era realizada na rua, sem nenhuma estrutura e organização, o que ocasionava perdas e desvantagens para o produtor rural.


Publicado em: 08/07/2015 às 00:00hs

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Desse modo, a CEAGESP surgiu da necessidade de se criar uma rede de abastecimento que promovesse e organizasse a comercialização de uma forma mais eficiente. A criação dessa rede de abastecimento promoveu vários benefícios para o produtor e para todos que fazem parte das atividades voltadas ao agronegócio, contemplando, dessa forma, tanto o agronegócio quanto a rede de abastecimento, evidenciando uma forma de comercialização que movimenta milhões de toneladas de produtos hortifrutigranjeiros e que gera um faturamento de extrema importância para a economia do nosso país.

INTRODUÇÃO
Com o crescimento acelerado dos centros urbanos no Brasil, o processo de distribuição dos produtos agrícolas acabou se tornando muito complexo, ineficiente e caro.  A forma de comercialização - vendas diretas ou indiretas desses produtos - gerava algumas dificuldades na composição do preço, concorrência entre produtores e principalmente na distribuição dos produtos aos varejistas (supermercados, mercearias, restaurantes, dentre outros). Diante desse problema, o Governo Federal brasileiro decidiu intervir no mercado, com a criação das Centrais de Abastecimento (Ceasas).

A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo, conhecida como CEAGESP ou por Ceasa foi criada em maio de 1969, pela fusão de duas empresas mantidas pelo Governo do Estado de São Paulo: o Centro Estadual de Abastecimento (CEASA) e a Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (CEAGESP). Sua função é de facilitar a comercialização, distribuição e armazenamento de produtos hortifrutigranjeiros, garantindo de forma sustentável a infra estrutura adequada e necessária para que os comerciantes executem suas atividades com garantia de segurança. A companhia abre espaço para a locação, onde comerciantes privados, chamados de permissionários comercializarem seus produtos dos produtores aos varejistas (super e hipermercados, mercearias, quitandas, restaurantes e sacolões). Desse modo, a CEAGESP tem especialidade no recebimento, armazenamento e comercialização de alimentos voltados à agricultura.

Considerando esse contexto, este artigo tem a finalidade de discorrer sobre a importância e funções da CEAGESP, baseando-se em exemplos específicos das unidades de São Paulo e Araçatuba, além de evidenciar a importância do agronegócio nas unidades.

DESENVOLVIMENTO
A CEAGESP administra o Entreposto Terminal de São Paulo (ETSP), que está localizado na cidade de São Paulo e é considerado um dos maiores mercados mundiais (sendo o maior da América Latina em volume de comercialização). A companhia representa um importante elo na cadeia de abastecimento de produtos hortícolas, que possibilita a produção do campo, chegue até a mesa das pessoas com regularidade e qualidade. Desde modo, conta com duas unidades de negócios distintas e que são complementares no processo: A entrepostagem e a Armazenagem. A entrepostagem é classificada como depósito ou venda de mercadorias, onde é um ponto de encontro de produtores e comerciantes, contribuindo para escoar as safras, movimentando o comercio atacadista e varejista e barateando os custos para o consumidor. O Entreposto Terminal São Paulo (ETPS) tem uma circulação diária de 50 mil pessoas e movimenta cerca de 250 mil toneladas de frutas, legumes, verduras, pescados, flores e plantas por mês, correspondentes a, aproximadamente, 3 milhões de toneladas ao ano. Sendo assim, pode-se dizer que ele é responsável por 60% do abastecimento da Grande São Paulo. Onde representa uma grande variedade de produtos, vindos de 1.500 municípios brasileiros e de 18 países. Já a armazenagem é classificada como uma das principais atividades desenvolvidas pela Companhia, sabendo que a produção agrícola é a maior riqueza do agricultor, oferece as melhores condições de armazenamento para safra. Possui estruturas adequadas para armazenagem, sendo grandes depósitos em forma de cilindro, para guardar produtos agrícolas, onde recebem a mercadorias e abrigam de forma segura e com qualidade para não haver perda. A gestão da rede é de responsabilidade do Departamento de Armazenagem (DEPAR)

A CEAGESP conta com 12 unidades comerciais que estão distribuídas pelo interior paulista, localizadas em: Araçatuba, São José do Rio Preto, Presidente Prudente, Marília, Bauru, Araraquara, Ribeirão Preto, Franca, Piracicaba, Sorocaba, São José dos Campos e Guaratinguetá. Tendo como objetivo se aproximar dos centros consumidores e produtores, desta forma estimulando as economias locais. Cada uma dessas centrais está localizada em pontos estratégicos, próximos a rodovias para fácil circulação, tornando o processo de recebimento e distribuição das mercadorias mais eficiente. As mercadorias vêm de cidades ou estados próximos, pois têm que ser transportadas com frescor e qualidade, sendo necessário que o transporte seja rápido, devido ao produto ser altamente perecível. Além disso, são necessários outros cuidados, como manuseamento correto e com qualidade na hora do transporte para não ocorrer danos à mercadoria.

A comercialização dentro da CEAGESP é bem variada, composta de produtos como: frutas, legumes, hortaliças, diversos (batata, cebola), flores, plantas e pescado. Alguns produtos são comercializados somente em Ceasas com maior estrutura, com a finalidade de conseguir atender a um público maior, contando assim com maior variedade. Os produtos que geralmente não são comercializados nas centrais do interior são os pescados e grãos, sendo que os demais produtos normalmente são encontrados. Por exemplo, a Ceasa de Araçatuba oferece espaço para varejistas, atacadistas e produtores, os quais são abastecidos com frutas, legumes, verduras, diversos, flores e plantas. Já na CEAGESP da capital, oferece-se espaço para varejistas, atacadistas, produtores, cooperativas, importadores, exportadores e agroindústrias, onde a comercialização é maior e variada, além dos produtos já citados, também contém pescados, grãos e produtos importados.

A unidade de Araçatuba foi inaugurada em 23 de janeiro de 1982, tendo como objetivo o abastecimento e criar aproximação do produtor com o consumidor. A unidade contém 33 (trinta e três) empresas cadastradas, as quais realizam a comercialização dos produtos agropecuários, oferecendo espaço para varejistas, atacadistas e produtores rurais que queiram vender suas mercadorias, sendo que essas mercadorias geram uma movimentação de 2250 toneladas/mês, correspondentes a 27000 toneladas/ano. Existe uma circulação de aproximadamente 500 pessoas nos dias de venda, o que gera uma movimentação de 150 veículos.

COMERCIANTES, PRODUTORES E COMPRADORES
O funcionamento das Ceasas é divido em três principais agentes que são fundamentais: Os comerciantes, produtores e compradores. Os comerciantes são classificados em empresas privadas (permissionários) que alugam alguma área na Ceasa, podendo ser boxes ou pedras. Os boxes são estruturas prontas, podendo realizar armazenagem, escritório e a comercialização. Já a pedra é uma área menor, comprada no próprio local (chão da plataforma), sem nenhuma estrutura, sendo que empresa pode usar aquele espaço para venda e construção de um pequeno escritório de divisas eucatex e pvc. A construção em concreto esta destinada aos boxes que já são estruturados pela CEAGESP. Para se tornar permissionário (vender seus produtos na CEAGESP) é necessário ter uma área no entreposto, e para isso é preciso acompanhar a abertura de processo licitatório no portal da CEAGESP.

Os produtores também podem realizar sua comercialização dentro da CEAGESP, sendo assim, podem entrar em contato com a mesma e solicitar um espaço (boxe ou pedra), ou solicitar a sua entrada para realizar suas vendas aos demais comerciantes. E, por fim, temos os consumidores. A CEAGESP abre suas portas para qualquer pessoa ou empresa para realizar suas compras, inclusive o consumidor final, seguindo as regras de horário para esse publico. A comercialização é mais votada para o atacado, sendo estabelecida uma quantidade mínima de compra, de modo que muitos produtos têm que ser comprados em caixas ou sacos fechados. (AGRIC. O que é Ceagesp. Acessado em 22/06/2015. www.agric.com.br)

Sendo assim, é importante lembrar que para realizar a comercialização dentro da CEAGESP, é preciso seguir as normas e regulamentos. Para comercializar é preciso entrar em contato com o Departamento de Entreposto da Capital, onde será enviado um pedido, sendo assim, não é qualquer pessoa que pode entrar e comercializar sem a devida autorização. O produtor ou os caminhões que chegam dos produtores, só será permitido à entrada com a apresentação da Nota Fiscal entregue na portaria, com a discriminação do destinatário.

O agronegócio pode ser classificado como o maior negócio mundial em participação, bem como do Brasil. Dessa forma, pode ser considerado o segmento mais importante do nosso país, tendo uma grande contribuição para balança comercial e sendo responsável por 25% a 30% do PIB nacional (segundo a Confederação Nacional da Agricultura - CNA).

A CEAGESP tem total envolvimento com o agronegócio, já que suas atividades giram em todo dele. Podemos entender agronegócio como negócios voltados ou que saem da produção agropecuária (produção vegetal ou animal). De acordo com John Davis (1955), o agronegócio pode ser considerado como a soma de todas as operações que envolvem a produção, armazenagem e distribuição de suprimentos agrícolas. Desta forma, é possível perceber que há um envolvimento muito grande de pessoas, o que acaba gerando muitos empregos, já que existem várias atividades profissionais que passam de um elo para o outro. Sendo assim, podemos perceber que o envolvimento do produtor rural com a CEAGESP é de extrema importância, bem como podemos entender as atividades realizadas do inicio ao fim, em dois conceitos importantes no agronegócio: As cinco atividades e as cadeias produtivas (porteiras).

De forma geral, podem-se definir cinco principais atividades que compõem o agronegócio, sendo elas:

1. Insumo à produção: Refere-se a todos os materiais básicos para iniciar a produção;
2. Agricultura e Pecuária: Trata-se do processo de cultivo, criação de animais e outras atividades correlatas;
3. Agroindústria: Trata-se do processo que realiza a transformação do produto agropecuário em um produto industrializado, agregando valor a esse e diversificando, dessa forma a oferta de produção para um melhor posicionamento.
4. Distribuição: Engloba toda a parte de logística, transporte, armazenagem e distribuição dos produtos.
5. Consumidor final: Constitui-se naquele(s) que consome(m) o produto. Ou seja, não dará continuidade na comercialização deste.

Conforme pontuado acima, o conceito de agronegócio envolve toda a cadeia produtiva, sendo que nesta podemos pontuar três principais etapas: Antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira.

1. Antes da porteira: Diz respeito ao início do processo produtivo. Sendo assim, pode ser classificada como a etapa de aquisição de sementes, fertilizantes e equipamentos para realização das atividades agrícolas. São todos os processos que envolvem o início das atividades.
2. Dentro da porteira: Trata-se do processo que diz respeito à continuidade do anterior. Dessa forma, é representado pela produção de verduras, legumes, frutas, soja, café, hortaliças e do processo produtivo em si, de modo geral.
3. Depois da porteira: É classificado como a última etapa, pois abrange o transporte, armazenamento ou industrialização e comercialização.

De modo sintético, podemos definir a participação desses três elementos no agronegócio através da seguinte premissa: O “Antes da porteira” tem menor participação em volume de recursos no agronegócio (em torno de 11%); “Dentro da porteira” tem cerca de 25% de participação e, por fim, “Depois da porteira” tem cerca de 63% de participação, representando a maior fatia do volume de recursos do agronegócio (José Adilson de Oliveira 2010).

Na compreensão do conceito de agronegócio, pode-se perceber que a CEAGESP está no centro das atividades ou da cadeia produtiva, servindo como um ponto de ligação, desde o inicio até o final do processo, pois ela garante o contato direto com o produtor a partir da compra das mercadorias, e chega ao final do processo, atingindo o consumidor final. No entanto, como o processo é totalmente interdependente, uma deficiência em qualquer elo da cadeia afeta todos os demais: Quando falta algum produto, conseqüentemente há aumento de preço, mercearias e hipermercados não conseguem abastecer suas bancas ou empresas não conseguem distribuir suas mercadorias, causando o repasse desse aumento de preço para o consumidor final. Da mesma forma, pode ocorrer o inverso do propósito da rede: o desabastecimento.

Uma das ações que ocorre na CEAGESP e que afeta positiva e significativamente a sociedade é o Banco de Alimentos, que se constitui em um importante instrumento de responsabilidade social contra o desperdício e a fome. O banco CEAGESP de alimentos (BCA) foi criado no Entreposto Terminal de São Paulo em 2003, tendo como objetivo coletar, selecionar e distribuir alimentos para os bancos de alimentos municipais e também para entidades sociais do Estado de São Paulo. O projeto já se encontra em 10 entrepostos do interior de São Paulo, sendo eles: Araçatuba, Araraquara, Bauru, Franca, Marília, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Sorocaba.

Os produtos coletados pelo Banco de Alimentos são doados pelos comerciantes da CEAGESP (permissionários), constituindo-se de produtos que estão impróprios para comercialização, mas ainda próprios para consumo. Após a doação, uma equipe faz a coleta e a seleção dos alimentos e os distribuem para famílias e entidades. A logística tem que ser muito rápida, já que a mercadorias vem com a perda do valor comercial, necessitando-se que sejam imediatamente consumidas. Os descartes impróprios para o consumo também são aproveitados, pois são transformados em adubo orgânico por meio de compostagem.

CONCLUSÃO
Com base nas informações acima expostas, pode-se concluir que o CEAGESP realiza um elo que perpassa toda a cadeia de produção e comercialização dos referidos produtos, permitindo a aproximação entre produtor rural e consumidor final. Uma evidência disso é o fato que no momento em que o consumidor compra algum desses produtos (frutas, legumes, verduras, plantas, flores, diversos, pescado e grãos) seja em feiras, super e hipermercados, restaurantes ou sacolões muito provavelmente essa mercadoria tenha sido comprada através de alguma Ceasa.

Da mesma forma, também se pode concluir que as companhias necessitam do agronegócio, pois sem o produtor (elo inicial da cadeia), não é possível que se consiga mercadorias para realizar suas atividades. Esses pontos também evidenciam a importância do agronegócio no Brasil, o qual gera inúmeros benefícios, tais como: alta competitividade, alto grau de utilização de tecnologia, geração de empregos e riqueza para o país, o que afeta não apenas a economia, mas de forma abrangente e positiva, as esferas política e social do nosso país.

REFERÊNCIAS

Fábio Vinicius de Araujo Ribeiro
Cursando o ultimo ano de Administração – UniToledo
Micro empresário da Fabio Vinicius de Araujo Ribeiro ME (Fábio Ceasa)